Resenha do ADAMS, Paul C Geographies of Media and Communication. (Wiley-Blackwell, 2009),
Capítulos 4 a 6. – por André Holanda
O capítulo 4 de Adams: Communication Flows and Flowmations deixa de lado a lente histórica para analisar as formações de fluxos (flowmations) e padrões que compõem o cenário atual.
O trabalho recupera muito brevemente a tradição das teorias da comunicação. Desde a fórmula de Lasswell, passando pela teoria da informação de Weaver e Shannon; e terminando com o two step flow de Katz e Lazarsfeld. O foco na transmissão surge e é relativizado sem aprofundamentos e (o que é notável) sem nenhuma atualização.
Para discutir o tempo-espaço da comunicação, o autor esclarece a plasticidade do conceito de espaço na geografia moderna, de modo a fundamentar a noção de que tecnologias possuem um efeito de ajustamento espacial. A demanda por acessibilidade pode encontrar respostas (tele) comunicativas quando faltam meios de transporte concreto entre os pontos. Assim, conforme demandas sociais, econômicas e políticas, as tecnologias renegociam as dimensões de tempo-espaço. Renegociam, não eliminam as distâncias, o conceito de custo-espaço é útil também para isto.
No entanto o autor faz um alerta no sentido de que a compressão espaço-temporal provocada pelas tecnologias não seja vista como (a) universal, (b) irreversível ou (c) triunfal (ADAMS,2009,p. 50), uma vez que própria convergência pode gerar movimentos divergentes. A concentração na cidade, e a posterior busca de refúgio na praia, no campo, no turismo, nos suburbia (condomínios fechados no caso brasileiro). As reorganizações do espaço relacional são constantes e complexas. Um exemplo desta complexidade está na questão da exclusão digital.
As histórias da difusão do telefone e da internet, bem como a análise das suas assimetrias fecha o capítulo com diversos exemplos das múltiplas dimensões que renegociam as distâncias relativas entre países. Sempre convivem os movimentos de convergência e divergência.
No capítulo 5: Topologies of communication, o autor apresenta conceitos da teoria das redes tais como: a dimensão de cada nó determinada pelo número de conexões que ele realiza. Adams esclarece esta forma peculiar de analisar o espaço relacional estabelecido pelas redes que é a topologia. Fundamental nesta análise é o conceito de small world, um tipo especial de rede, estruturada em laços fortes (que unem nós próximos) e laços fracos (que unem nós normalmente pouco próximos). A diferença é a mesma que existe entre relações familiares e profissionais.
A importância dos laços fracos é que estes permitem a formação do efeito de “pequenos mundos”, em que mesmo em redes muito complexas, existem caminhos geralmente muito simples unindo quaisquer dois pontos que se tome. O teste destas redes é o experimento dos “seis graus de separação” (GUARE, 1990) que propõe a existência de apenas seis pontos de contato a percorrer para encontrar qualquer pessoa na terra: você conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece esta pessoa.
Só as redes que não são nem completamente regulares (formadas unicamente por laços fortes) nem completamente aleatórias (compostas por laços fracos) podem provocar este fenômeno, justamente o que permite cruzar as distâncias em uma rede vasta e organizada são os laços fracos.
Um dos fatores que interferem na topologia das redes é o seu processo de formação. O crescimento das redes privilegia a concentração de valor em poucos links, que passam a atrair mais conexões, quanto mais conectados sejam. Desta forma, é um equívoco dizer que a rede é uma estruturação em si mesma democratizante, como se fosse destituída de hierarquia. A lógica de crescimento das redes é a concentração cada vez maior de valor em pontos de destaque.
Uma forma de adequar a análise topológica a estas assimetrias é utilizar a Q-analysis de Peter Gould. Esta metodologia considera também o valor do link assim como a dimensão dos nós. Além de simplesmente detectar que A e B estão conectados, como ocorre na WWW, é necessário considerar que tipo de relação une A e B. Estas relações diferenciadas permitiram mais tarde diversos mapeamentos da mesma rede segundo critérios diferentes. Você pode estudar um grupo social destacando apenas os laços de casamento em que Fulano e Beltrana estão próximos (cônjuges) e descartando os laços profissionais em que os mesmos estão distantes (ele engenheiro da empresa X, ela dentista no consultório Y).
Adams propõe rapidamente uma forma de analisar topologicamente o lugar, uma sala de aula em que o professor é claramente um hub, centralizando as conexões de todos os alunos; um escritório em que existem hubs locais (gerentes) conectados a diretores, que não estão conectados com os funcionários mais subalternos, ou discussões todos-todos, em mesas de bar. Esta visão topológica dos lugares lembra a questão do dispositivo de Foucault e o panopticon de Bentham que autor cita muito brevemente.
Já no capítulo 6: Inclusion/ exclusion, Adams trata dos processos de formação territorial através das dinâmicas de inclusão e exclusão dos lugares de interação. O primeiro passo é fazer uma crítica da visão idealista de Habermas da “situação ideal de fala”, mais uma vez no sentido de colocar em relevo a questão das assimetrias nas diversas “esferas públicas” que de fato existem ao invés de nos apegarmos à condição ideal de Habermas.
Este processo de territorialização baseia-se, como dissemos, na dinâmica de inclusão/exclusão de participantes realizada a partir de processos distintos:
1) inclusão/exclusão lingüística, que o autor estuda focalizando a construção dos conceitos de comunidade, nação, áreas excluídas constituídas pelo discurso como o “leste europeu” e o “mundo mulçumano”
2) a inclusão/exclusão institucional, a exemplo da ONU, OTAN ou os critérios de inclusão no Mercosul e na Comunidade Européia;
3) a inclusão/exclusão tecnológica: de que o digital divide é o grande exemplo, juntamente com todos os casos de acesso limitado e adoção atrasada de tecnologias.
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