No sexto capítulo do livro “Big data”, Viktor Schönberger e Keneth Cukier discutem a questão do valor econômico dos dados massivamente coletados na era do Big Data. A partir de exemplos da nova economia e da constatação do valor sempre presente da informação em todos os tempo e mercados enquanto um dos fatores de produção, os autores exploram múltiplas oportunidades de lucro geradas pelo acúmulo, pela mineração, pelo cruzamento das grandes massas de dados que agora se tornam disponíveis. Equivale dizer, se propõem a discutir o valor e o mercado dos dados neles mesmos.
Os aspectos econômicos são muito esclarecedores do porque desta revolução se dar no contexto atual: segundo os autores, enquanto o custo do armazenamento cai pela metade a cada dois anos ao longo dos últimos 50 anos, a capacidade de armazenamento cresceu 50 milhões de vezes. Além disto, convém lembrar que a informação não se gasta na utilização nem perde valor ao ser compartilhada. Se por um lado, este bem agora superabundante, ao contrário do capital, não vale por ser rara, nem por ser rarefeita pelo uso, seu real valor não pode ser confundido com o seu valor de uso imediato.
O maior valor dos dados não está na sua função imediata e utilitária, mas sim no seu valor como “opção”. Por exemplo, dados de acesso que informam as características de tráfego em uma rede, originalmente coletados para seu aperfeiçoamento técnico, podem valer para terceiros pela capacidade de, a partir, dos rastros deixados pelo consumidor, informar os agentes econômicos sobre o valor latente de mercados, públicos consumidores e demandas presentes na sociedade, talvez difíceis de localizar por outros meios.
Outro exemplo podem ser os dados das redes sociais que podem ser apropriados para diagnosticar a percepção, o reconhecimento ou a satisfação de um público com uma determinada marca. Não por coincidência, mais à frente no capítulo, o valor destes rastros deixados pelo usuário será explorado pelos autores com um dos principais potenciais do cenário descrito.
Desta forma fica demonstrado que grandes coleções de dados possuem valores latentes nelas próprias que podem tornar-se recurso para novas operações econômicas.
Estes recursos podem ser mobilizados através de três formas principais: a reutilização de dados em novos ciclos econômicos; a recombinação de coleções de dados, diríamos o “cruzamento de informações”, produzindo novo valor que aquelas não possuem em separado; e finalmente, a extensibilidade inserida no projeto destas coleções, de modo a torna-las verdadeiros ativos e não meros fatores de produção.
Mas se, por um lado, o valor latente dos dados serve de argumento às coleções duradoras, existem argumentos também para a necessidade da depreciação deste valor. O exemplo escolhido pelos autores é o da loja virtual que tem muito a perder fazendo recomendações aos seus clientes com base em informações antigas que podem não refletir seus interesses atuais.
Outras discussões interessantes são: o acesso a informações governamentais, que vem frequentando as agendas públicas em diversos países; e, finalmente, o problema econômico de avaliar financeiramente estas coleções de dados como ativos das companhias. O exemplo do Facebook é significativo. Soluções são propostas na linha do licenciamento de coleções de dados e até mesmo um possível modelo de negócios baseados na mediação deste tipo de transação é apresentado.
Em artigo de 2012, Scott Jarr propõe um contínuo do valor dos dados que pode explicar melhor a contradição apontada, mas não plenamente desenvolvida por Schönberger e Cukier entre o valor latente da informação e a necessária depreciação do seu valor econômico. Para tal o autor separa o valor do dado tomado individualmente, que sofre depreciação contínua e seu valor enquanto componente de agregados de informação, que ganham valor com a expansão da sua abrangência ao longo do tempo. Vide figura baixo.