A cidade de Búzios, no Rio de Janeiro, conhecida pela beleza de suas praias, também é atualmente um importante campo de testes para inovações nas áreas de energia eólica, solar e elétrica. O projeto Cidade Inteligente Búzios, realizado pela Ampla, concessionária de energia local, em parceria com a prefeitura e empresas do setor, tornou a cidade um living lab para criar, implementar e testar soluções de energia alternativa, principalmente elétrica, na forma de uma rede inteligente ou smartgrid.
Uma rede inteligente de energia usa TIC para coletar e manipular informações sobre a geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica. A rede se torna habilitada para o tráfego de dados. Com isso, os usuários podem acessar informações sobre seu consumo, verificar horários com tarifas mais baixas e ainda fazer a gestão de aparelhos remotamente através de um app para smartphone. Motivadas pela necessidade de inovação, busca por soluções mais seguras e regras de contratos de concessão, diversas empresas do setor de energia elétrica estão realizando projetos piloto baseados no conceito de rede inteligente. Sete Lagoas, Barueri, Aparecida, Curitiba, Parintins e Aquiraz são algumas das cidades brasileiras que atualmente suportam living labs para experiências com smartgrids.
O projeto Cidade Inteligente Búzios atende 10 mil clientes, residentes próximos ao centro da cidade de Armação de Búzios, onde também está localizado seu Centro de Monitoramento e Pesquisa, que funciona ao mesmo tempo como um laboratório e um centro de visitação e exposição de serviços e dispositivos. Com o acompanhamento de um monitor é possível conhecer os eixos de atuação do projeto através de apresentações multimídia, saber mais sobre o funcionamento de bicicletas e carros elétricos, postes com luminárias de LED controladas à distância e principalmente os medidores inteligentes, tratados como “gerentes do sistema”.
Não é difícil encontrar os medidores instalados nas ruas. Eles estão visíveis em muitas residências. No entanto, suas funcionalidades parecem não ser conhecidas pelos habitantes locais. Numa pesquisa informal, entre recepcionistas de hotéis, motoristas de ônibus, garçons e até mesmo atendentes de postos oficiais de turismo, o desconhecimento foi total. Talvez a ação do projeto mais conhecida entre a população e os turistas seja a zona wi-fi gratuita localizada na Rua das Pedras, principal ponto de encontro do centro urbano da cidade.
Living labs são modelos de aplicação do conceito de cidade inteligente, normalmente restritos a um segmento de tecnologia ou determinadas áreas de uma cidade. No mundo, living labs dedicados a experimentos com Internet das Coisas, redes inteligentes de energia, telecomunicações, desenvolvimento de softwares, compartilhamento de veículos, fomento de startups e empresas do setor de economia criativa, por exemplo, estão em andamento em bairros de Barcelona, Moscou, Boston, ou ainda em pequenas cidades, como o projeto realizado pela Telefonica na cidade de Águas de São Pedro, a segunda menor cidade brasileira, localizada no estado de São Paulo.
Quando um modelo de cidade inteligente é proposto por uma empresa de determinado segmento é preciso observar sua influência tanto na concepção das ações que moldam o projeto, quanto na atuação de outros atores. Cidade Inteligente Búzios tem na eficiência energética a base de sua “inteligência”. Mas esse modelo não pode reduzir a importância de outras perspectivas e interesses locais, de habitantes, comerciantes e gestores públicos. Embora a cidade apresente características apropriadas para o desenvolvimento de um living lab de energias alternativas, como sua localização, clima, perfil de consumo e visibilidade internacional, devem existir outros problemas a serem enfrentados para que ela seja reconhecida como uma cidade inteligente do ponto de vista de seus residentes.
Quando uma empresa lidera um projeto desse tipo também traz consigo uma rede de parceiros, tecnologias, agendas e planos de desenvolvimento que precisam ser analisados de forma mais detalhada. Os parceiros tecnológicos, por exemplo, que fornecem ao projeto uma série de dispositivos, sensores e medidores inteligentes, não apenas contribuem com sua implementação, mas ajudam a moldar sua forma final, já que as funcionalidades técnicas serão definidas pelos recursos disponíveis em seus produtos. De forma similar é preciso considerar ainda a influência da municipalidade, de políticas do setor de energia, de regulações do governo, do mercado turístico e outros atores que tomam parte na rede socio-técnica que se forma em torno do projeto Cidade Inteligente Búzios.
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