Quando se pensa na era pré-histórica, logo duas coisas vêm à cabeça da maioria das pessoas: os homens rudes, barbudos e cabeludos, balbuciando sons aleatórios, como “uga uga”, e as misteriosas pinturas rupestres nas paredes de cavernas, que até hoje encantam por seu simbolismo e perfeição. As paredes foram os primeiros suportes utilizados pelo homem para expressar ideias, sentimentos e acontecimentos. É nelas que nasce a verdadeira comunicação mediada por aparatos técnicos.
Logo depois, outros materiais também passaram a servir de suportes para o conhecimento humano: a pedra, a ardósia, os cacos de cerâmica, o mármore, o osso, vidro, ferro, bronze e, em especial, as tabuletas de argila. Usadas, principalmente, pelos povos sumérios, por volta do século 3.000 a.C, elas eram cunhadas por objetos pontiagudos e foram essenciais para o desenvolvimento econômico na antiguidade.
Dito isso, a grande questão é: por que um blog que fala tanto em mídias locativas, dispositivos móveis, cidades digitais e outras tecnologias do futuro resolveu pensar em uma comunicação tão arcaica? A resposta está numa semelhança difícil de perceber. Há muito mais de tabuletas de argila num smartphone do que se imagina.
Foram as necessidades comerciais que impulsionaram o aparecimento da escrita e a busca por suportes que melhor atendessem a essas demandas. Se o surgimento das tecnologias móveis revolucionou as relações do homem com seus semelhantes, com o espaço onde vive e até consigo mesmo, a descoberta das tabuletas de argila teve impacto semelhante na sociedade antiga. Pela primeira vez, era possível deslocar a informação, levá-la de um lugar para o outro, ações impossíveis com algo imóvel, como paredes de cavernas.
A mobilidade não é, portanto, um nascimento do século XXI. Tomadas as devidas proporções, as tecnologias móveis sempre existiram. Primeiro com as tabuletas, depois com o papiro, papel, livros, e assim por diante. De criação em criação, de descoberta em descoberta, mais atribuições foram dadas a elas e mais ações podem ser feitas de qualquer lugar.
Depois de tudo isso, é impossível não lembrar do que é, frequentemente, percebido por cientistas sociais e bastante discutido no meio acadêmico: a moda da pós-modernidade, afinal, são os modelos arcaicos?
Leia mais sobre os smarphones do passado.
Referências:
SILVA, E.; SOUZA, G. C.; CARNEIRO, G. B.; MATIAS, J. D. P.; NASCIMENTO, G. B. D. A Influência das tecnologias no acesso a informação e na produção do conhecimento. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO, GESTÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 33, 2010. Paraíba. Anais… Paraíba, Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2010.
PERES, J. C. A. B. A escrita como instrumental para o desenvolvimento da mente. In: CONGRESSO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS E LITERÁRIOS DE MATO GROSSO DO SUL, 3, 2007, Mato Grosso do Sul. Anais… Mato Grosso do Sul; Editora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, 2007, p. 1-8.