No final do ano passado, Chris Anderson, editor-chefe da revista WIRED, escreveu em seu perfil no Google+ um pequeno texto com o seguinte título: Why the Internet of Things final makes sense. Ele acredita que, agora, depois de uma década falando-se sobre esse tema, podemos perceber melhor um início da Internet das Coisas (Internet of Things, em inglês, sendo abreviada muitas vezes para IoT). Itens do nosso dia-a-dia, ou da nossa própria casa, já começam a ser adaptados para uma internet das coisas, dos objetos.
“Look around your house“, escreve Chris Anderson. “Everything that has a proprietary embedded processor in it is a candidate for being reinvented with Open Hardware. That’s how the Internet of Things is going to finally become a reality“.
CERP IoT, 2009, p. 8
Mas, afinal, do que se trata exatamente a Internet das Coisas? Fala-se em computação ubíqua e pervasiva, etiquetas de rádio frequência, redes sem fio, smart word, conectividade para qualquer coisa, smart home, smart city etc. Mas definições são múltiplas e ainda bastante amplas, não definindo com tanta clareza a IoT.
Kevin Ashton, o provável inventor da expressão Internet of Things, em meio ao uso diversificado em que o termo é empregado, tenta explicar o que ele realmente queria dizer:
“The fact that I was probably the first person to say “Internet of Things” doesn’t give me any right to control how others use the phrase. But what I meant, and still mean, is this: Today computers—and, therefore, the Internet—are almost wholly dependent on human beings for information. Nearly all of the roughly 50 petabytes (a petabyte is 1,024 terabytes) of data available on the Internet were first captured and created by human beings—by typing, pressing a record button, taking a digital picture or scanning a bar code. Conventional diagrams of the Internet include servers and routers and so on, but they leave out the most numerous and important routers of all: people. The problem is, people have limited time, attention and accuracy—all of which means they are not very good at capturing data about things in the real world“.
Numa das primeiras publicações jornalísticas em que Internet of Things é citada – The Guardian, em 2003 – define-se IoT como sendo a construção de uma infraestrutura global de etiquetas de radiofrequência (RFID Tags). Outras publicações (The New York Times, em 2005, por exemplo), além de citar as RFIDs, começam a falar em uma worldwide network of things, relacionando com miniaturização, ubiquidade etc. Demonstra-se o pensamento de não apenas marcar e facilitar localização de objetos pelo mundo, mas se desenvolve uma ênfase na rede que é criada a partir disso.
Já na área científica algumas análises começam a demonstrar uma visão da IoT que a colocam como uma “nova ontologia” que altera as relações entre humanos e relações autônomas entre máquinas – o que é chamado comumente de Machine to Machine, M2M (KRANENBURG et al, 2011). Este mesmo artigo, logo no resumo, define Internet das Coisas como sendo “a number of technological protocols that aim to connect things to other things, to databases and to individuals“. Enfatiza-se, assim, a rede, a conectividade entre coisas com coisas, pessoas com pessoas, coisas com pessoas.
Essa idéia de interação aparece também em outros trabalhos: “The Internet of Things (IoT) is a novel paradigm that is rapidly gaining ground in the scenario of modern wireless telecommunications. The basic idea of this concept is the pervasive presence around us of a variety of things or objects – such as Radio-Frequency IDentification (RFID) tags, sensors, actuators, mobile phones, etc. – which, through unique addressing schemes, are able to interact with each other and cooperate with their neighbors to reach common goals” (ATZORI at al, 2010, p. 1)
(UCKELMANN et al, 2011, p.6)
Ainda assim, palavras ou conceitos de rede dinâmica, protocolos de comunicação, interfaces inteligentes, objetos inteligentes etc, misturam-se para formar o que seria uma internet do futuro. Nela, claro, existira o que se chama atualmente de Internet das Coisas. Portanto, muitos desses conceitos relacionam-se nas tentativa de definer a IoT: “Internet of Things (IoT) is an integrated part of Future Internet and could be defined as a dynamic global network infrastructure with self configuring capabilities based on standard and interoperable communication protocols where physical and virtual ‘things’ have identities, physical attributes, and virtual personalities and use intelligent interfaces, and are seamlessly integrated into the information network” (CERP IoT, 2009, p. 6)
A Internet das coisas, dessa forma, deve ser considerada como parte da internet do futuro, que será provavelmente “dramatically different from the Internet we use today” (ATZORI at al, 2010, p. 17)
Alguns dos pesquisadores do GPC trabalham no momento justamente com a internet das coisas, buscando identificar as formas como ela é entendida, desenvolvida e prevista, e como pode alterar a maneira como nos relacionamos com os objetos, o espaço urbano e a internet, tema sempre presente nas discussões do grupo. Dentro dessa perspetiva, sob a luz da Teoria Ator-Rede (ver LATOUR, 2012), identificamos as pessoas e “coisas” da IoT como atores – ou actantes – nesta rede.
Referências
ATZORI, Luigi; IERA, Antonio; MORABITO, Giacomo. The Internet of Things: a survey. Computer Networks, v. 54, n. 15, p. 2787-2805, 2010.
CERP IoT – INTERNET OF THINGS EUROPEAN RESEARCH CLUSTER. Internet of Things: Strategic Reserach Roadmap, 2009. <http://www.internet-of-things-research.eu/pdf/IoT_Cluster_Strategic_Research_Agenda_2009.pdf>
KRANENBURG, R.; ANZELMO, E.; BASSI, A.; CAPRIO, D.; DODSON, S.; RATTO, M. The Internet of Things. 1st Berlin Symposium on the Internet and Society. Outubro de 2011. Disponível em <http://www.theinternetofthings.eu/sites/default/files/%5Buser- name%5D/The%20Internet%20of%20Things.pdf>.
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. EDUFBA: Salvador, 2012.
UCKELMANN, D; HARRISON, M.; MICHAHELLES, F. An Architectural Approach Towards the Future Internet of Things. In UCKELMANN, D; HARRISON, M.; MICHAHELLES, F. (Orgs). Architecting the Internet of Things. Springer: Nova Iorque, Dordrecht, Heidelberg, Londres, 2011.