Começou ontem a discussão do livro “Geographies of Media and Communication” de Paul C. Adams (Wiley-Blackwell, 2009). Discutimos os capítulos de 1 a 5. Abaixo a resenha de Leonardo Branco dos capítulos de 1 a 3.
Introdução
O autor vai apresentar os quatro enquadramentos da geografia da comunicação:
Mídia no espaço – É a idéia de comunicação como infra-estrutura e as pegadas de tal infra-estrutura.
A idéia da mídia no espaço aponta a infra-estrutura da comunicação unindo várias localizações, mas também que tais elos transformam o espaço.
Espaço na mídia – Diz respeito às conexões que permitem a estabilidade da topologia social dos indivíduos. A topologia e as hierarquias sociais permanecem estáveis, mesmo com as pessoas em movimento pela a ação das mídias.
Lugares na mídia – Fala das representações dos lugares nas mídias (TV, livros, rádios). O lugar é um centro de significados.
Mídia no lugar – Um lugar é entendido como incluindo certos tipos de comunicação e excluindo outros. As regras do lugar lembram às pessoas que tipos de comunicação estão “de acordo com o lugar” ou “fora de lugar.”
Pouco explorada pelos geógrafos. A novidade deste quadrante surge de observar as comunicações não simplesmente como textos e discursos (imagens de lugar), não simplesmente como fluxos (comunicações no espaço), mas principalmente como práticas.
O Diagrama Quadrante
O diagrama não deve ser usado para encaixar. Muitos dos pesquisadores citados neste livro não podem ser claramente ligados a um quadrante específico.
Duas tensões: espaço x lugar e representação geográfica x organização geográfica.
O espaço tem sido associado pelos geógrafos a liberdade, vulnerabilidade, potencial, movimento, distância e abstração. Implica padrões e fluxos.
O lugar tem sido associado com confinamento, proteção/possessão, estabilidade, significado e o concreto. Implica território, identidade, rotina e privacidade.
Na metade superior do diagrama, o espaço e o lugar enquadram e dão forma às comunicações. Na metade inferior do diagrama, lugar e espaço, são produzidos pelas comunicações.
A Transição Comunicacional
Apesar da dominância da comunicação na geografia cultural, o conceito de comunicação permanece difuso, dentro da geografia.
Capítulo 2
Da Palavra Falada ao Alfabeto
A história da mídia é apresentada como uma série de datas: a Bíblia de Gutemberg em 1455, o telégrafo de Morse em 1844, o Windows da Microsoft em 1985, porém tais datas escondem mais que revelam.
Uma visão simplista e cronológica da mídia é míope, porque as mudanças nas mídias poucas vezes se ajustam A uma nova mídia substituindo uma mídia mais antiga.
As tecnologias e as relações sociais são co-constituídas. Tentar compreender sociedade, espaço e lugar, em conjunção com tecnologias e técnicas de comunicação.
As tecnologias se desenvolvem numa rede multidimensional de relações entre outras tecnologias, engenheiros, cientistas, segmentos do público, investidores, instrumentos financeiros, provedores de serviços, idéias, crenças, representações, governos e regulação.
Oralidade
A oralidade primária da sociedade pré-literata é uma forma de existência alienígena. A oralidade primária está agora desaparecendo.
A preservação de qualquer idéia, na oralidade primária, necessitava de repetição, requeria algum tipo de performance repetida.
A oralidade primária era caracterizada pela performance verbal e pelos gestos/ritmos incorporados da oralidade.
A Palavra Escrita
A mudança da oralidade primária para a literalidade foi lenta, mas inexorável – associada a uma gama de mídias (argila, papiro, pincel, papel e caneta) cada uma delas mobilizadas num lugar específico.
A fixação da palavra produziu uma reformulação do tempo, do espaço, do poder e da identidade.
As palavras podiam durar mais tempo, e serem disseminadas pelo espaço, servindo como meio para aumentar o controle humano sobre processos distantes.
Através da palavra fixa foi possível formar o tecido das cidades, impérios, nações e estados.
O tempo adquire uma estrutura linear, ao invés de cíclico. A escrita estabelece relações hierárquicas entre aqueles com talento para originar textos. Não é por acaso que a palavra autoridade provém da raiz autor.
Escrita Alfabética
Numa perspectiva geográfica, o alfabeto facilitava a construção de impérios:
(a) Disseminava a informação geográfica, como direções de navegação e viagem por terra.
(b) aumentava o interesse de assentamento e exploração de recursos;
(c) facilitava a administração de povos subjugados através de regras e regulamentos;
(d) disponibilizava as experiências transmitidas através do espaço e do tempo.
(e) permitia a administração de áreas colonizadas.
Capítulo 3
Da Imprensa ao Sinal Eletromagnético
A transição da escrita para a imprensa foi uma evolução, ao invés de revolução.
A imprensa acelerou o fim da oralidade primária.
O que conhecemos como meio de comunicação não é apenas uma tecnologia, mas uma rede de atores humanos, instituições sociais, tecnologias e lugares.
Imprensa, Espaço, e Ação
A impressão permite alcançar uma audiência maior espalhar-se por muitos países e muitos séculos. Dá solidez à idéia da autoridade (uma única mão e mente por trás do texto).
Antes da imprensa era a igreja a fornecedora das narrativas que estruturavam a vida e a morte para as populações.
A imprensa, não foi simplesmente uma técnica ou tecnologia, foi um conjunto de atividades que impeliu o recrutamento de vários tipos de actantes em redes heterogêneas.
A maçonaria, seitas secretas e o mercado negro auxiliaram a construir a rede; as conexões entre editores, impressores e livreiros.
O intelectual havia emergido como uma nova autoridade, demonstrando o poder da cidadania, do pensamento livre e da imprensa. A fonte primária de autoridade moral e intelectual mudou dos clérigos para os intelectuais.
O Telégrafo e a Invenção da Transmissão
Enquanto comunicação antes implicava transporte, as novas tecnologias dissociaram comunicação e transporte, tornando-os separados.
As redes telegráficas incluíam atores oficias, como companhias ferroviárias, plantadoras de grãos, investidores, e serviços de fiação, bem como atores não-sancionados, como criminosos, vigaristas, e amantes.
O telégrafo era visto a partir de “uma visão essencialmente religiosa da comunicação ao ligar as pessoas de toda parte, foi anunciado como a realização da Irmandade Universal dos Humanos Universais”.
O Telefone e os Conflitos Territoriais
O telefone foi empregado através de uma rede de atores, associado a cientistas, patentes, laboratórios e eletricidade.
Nem a viagem nem a mobilidade diminuíram com o surgimento do telefone. Para cada viagem evitada por causa da troca de comunicação, mais viagens eram geradas, porque as pessoas ficavam envolvidas com mais profundidade nos assuntos distantes.
Sem o telefone, um grande numero de mensageiros teria que operar nos escritórios; construir altos edifícios, com o necessário número de elevadores e escadas, seria simplesmente algo sem sentido.
O telefone permitiu a forma física do arranha-céu e a expansão das áreas suburbanas. O telefone reduziu os custos econômicos e sociais de construir para fora e para cima, e favoreceu a formação das grandes cidades.
Rádio
Experimentos de hobbyistas, comunicações de navio a costa e usos militares eram predominantes quanto ao uso do rádio antes dos anos 1920.
Estas aplicações concebiam o rádio como uma mídia ponto-a-ponto, porém a tecnologia estabilizou-se como uma mídia de massa com a transmissão de eventos de esporte, eleições, performances musicais e conteúdos religiosos.
Os educadores americanos promoviam a idéia de que a missão do rádio era a educação dos cidadãos.
Veja também:
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