Durante a CES (Consumer Electronics Show) 2013, nos EUA, o departamento de pesquisas da Microsoft anunciou o IllumiRoom, protótipo de equipamento que “amplia” a TV através do trabalho em conjunto com um projetor.
[Na imagem de cima, o IllumiRoom em ação. Na outra, é possível ver, no chão, o limite da área coberta pela projeção.]
Voltado inicialmente ao mercado de games – especula-se que ele fará parte da próxima geração do Xbox, videogame da empresa –, o sistema funciona de maneira integrada com a imagem do televisor, às vezes criando uma visualização maior (o cenário do jogo extrapola a tela “pequena”), outras ajudando a criar ambiência (como flocos de neve que reforçam a temática da fase jogada) ou podendo dar informações a mais.
[Vídeo de demonstração do IllumiRoom liberado pela Microsoft]
Aparentemente focado na TV e em formas de integração com ela – se a ideia fosse simplesmente uma tela maior, por que não projetar diretamente numa parede lisa? – o projeto parece contar ainda com um sistema de câmeras para “escanear” o espaço, permitindo aplicações de video mapping, com projeções que reconhecem e interagem com o ambiente.
[Na primeira figura, uma demonstração da possível tela inicial do sistema de scanner. Na segunda, a imagem projetada “casa” com o que foi capturado previamente, podendo criar ilusões como distorção em conformidade com as explosões no jogo.]
Efetivamente aumentando o campo de visualização do usuário – no intuito de uma vivência mais “imersiva” –, alguns sites (por exemplo, o Omelete, o TechGeek e o próprio Portal Xbox Portugal) foram rápidos em chamar o protótipo de uma experiência de realidade aumentada (RA). Ryan McCaffrey e Mitch Dyer, respectivamente Editor Executivo e Editor Associado do IGN – portal sobre entretenimento com grande foco em jogos eletrônicos – debateram sobre o assunto em um vídeo (abaixo – a matéria completa pode ser lida aqui), chegando a afirmar que essa seria possivelmente a alternativa da Microsoft aos óculos de RA, cuja utilização não seria tão “querida” entre o público. Pode ser interessante, entretanto, questionarmos se essa ampliação da tela seria mesmo de uma questão de RA.
Sendo a RA normalmente associada à mediação de “dispositivos-tela” (smartphones, óculos como o Google Glass, videogames portáteis, tablets e outros aparelhos), o IllumiRoom opta por algo que poderíamos chamar de “superfície-tela”, com a luz (e a informação em questão) incidindo diretamente sobre os objetos, “molestando-os” efetivamente, ao contrário do que normalmente acontece – quando o acréscimo/aumento de realidade (ou “diminuição”, conforme já problematizado por André Lemos) pode ser feito sem que o objeto (também pessoa, animal etc.) sofra nenhuma alteração ou “se dê conta” disso.
Projeções fora de telas já são um assunto debatido há bastante tempo na tradição das artes (cinema expandido, vídeo instalações… mais recentemente os vídeo mappings). Poderíamos chamar a “mera” utilização de superfícies diversas como suporte de realidade aumentada? Talvez sim (afinal, “duas realidades” – a da “diegese projetada” e a do ambiente físico – estão “casadas”), talvez não (afinal, uma – a “tela” – é simplesmente suprimida, diminuída, esquecida na experiência). E quando leva-se em conta a “geografia” do lugar, com as imagens interagindo e se adaptando a ele (uma projeção “recortada” para caber exatamente nas dimensões de algum objeto)? Poderíamos pensar especificamente no vídeo mapping como uma forma de RA, ao colocar totalmente em questão os objetos/superfícies tela, adaptando-se dinamicamente e eles, misturando o ambiente e projeção, acrescentando/aumentando os sentidos/significações? Ou só poderíamos considerar como tal as utilizações que adicionem informações pontuais (um preço, uma seta indicativa, uma descrição complementar etc., ou mesmo um desenho que modifique a relação inicial)? Seria apenas uma questão de tradição conceitual (com a RA dizendo respeito especificamente a dispositivos digitais preferencialmente móveis, sendo a ideia do IllumiRoom um tipo – não único – de ramificação)? Ou simplesmente não seria o caso, com a RA estando positivamente atrelada a “dispositivos-tela” que acrescentam sem “molestar” o “alvo” para além do que é visto no aparelho de visualização?
Como outras funções não são muito exploradas na apresentação do IllumiRoom, talvez seja cedo para dizer a priori se ele pode ou não ser considerado um projeto de realidade aumentada, ou se isso dependerá de usos específicos – ou mesmo do que se compreende por RA.
– Imagens captadas do vídeo de apresentação do IllumiRoom