Finalizaremos amanhã no Lab404 a discussão do “Immaterialism” de Graham Harman (Polity, 2016). Nesse livro, o filósofo aponta, através de uma análise “imaterialista” (OOO aplicada, se podemos dizer isso) da Dutch East India Company (oferencendo um interessante modelo de análise para qualquer objeto), as suas diferenças em relação à teoria ator-rede. Harman vai negar pilares fundamentais da Teoria Ator-Rede (TAR), afirmando, por exemplo, que objetos são mais interessante em suas substâncias do que em suas ações, que a essência de um objeto não é nem o que ele faz nem do que ele é composto (mostrando a insuficiência da análise dos objetos pelos seus efeitos ou pelo materialismo científico) e, principalmente, negando-se a ver na controvérsia o momento central para entender a vida dos objetos.
Opondo-se a isso, o “immaterialism” de Harman quer, ao contrário, ressaltar o que eles são quando não fazem nada, quando estão calados, isolados, desconectados, para usar um jargão atual. O objeto não é para o imaterialismo o que surge da ação, mas o que a permite. Antes de apontar efeitos e controvérsias, o que importa é mostrar as suas simbioses (na minha opinião, o conceito-chave e o mais interessante do livro), visão bem diferente da ideia do “ser-enquanto-um-outro”, de Latour no Enquete. Harman mantém a admiração pela TAR e pela obra de Latour, mas aponta o que para ele são limitações de sua ontologia dos objetos, já que situa-se em uma forma de entendimento que ele chama de “overmining”. Vale a pena a leitura, mesmo que os detalhes históricos sejam por vezes enfadonhos. O livro pode ajudar a aprofundar o debate sobre a TAR e suas críticas.