VAN KRANENBURG, R. The internet of Things. A critique of ambiente technology and all-seeeing network of RFID. Amsterdam: TenworkNotebooks, 2008.
Por Luiz Adolfo Andrade.
Forward: A Tale of Two Cities por Sean Dodson
Neste prelúdio, Sean Dodson destaca o conto de David Brin 1998, Transparente Society, lançado há uma década atrás. No texto, Brin situa duas cidades no ano de 2018, as quais aparentam grande semelhança, mas são profundamente diferentes. As semelhanças ficam por conta das deslumbrantes maravilhas tecnológicas que caracterizam seu ambiente e sofrem dilemas advindos da deterioração que acomete o espaço urbano.
A primeira dessas cidades é a cidade do controle, cujo espaço é permeado por câmeras de segurança, processadores de imagem para scannear infratores, dentre outros. Nesta cidade, os cidadãos andam conscientes de que qualquer palavra ou ação pode ser notada por agentes do governo. A segunda cidade concebida por Brin é dotada de um ambiente mais transparente, fundamentado mais na ideia de confiança que de controle.
Uma década depois da visão proposta por Brin, Dodson pergunta qual das cidades teria se tornado realidade – a do controle ou da confiança? O autor observa que o argumento de Brin focaliza apenas a questão da ubiquidade das câmeras, e o que nós vemos agora, em 2008, são cidades amarradas juntas em uma internet das coisas – tecnologias mais sutis, situadas em lugares e objetos . O ninho de cameras de Brin encontra-se amarrado a uma rede sem fio , onde qualquer objeto e espaço pode ser localizado e monitorado. As cidades amarradas pela internet das coisas (p.06) disponibilizam lugares onde a infraestrutura urbana incorpora uma rede sofisticada de itens rastreáveis. A primeira cidade de Dodson, do controle, cada corpo, objeto e lugar receberia uma etiqueta de rádio frequência FID. Tudo que você compra, todos que você encontra, seriam monitorados. Ja a segunda, da confiança , seria superficialmente igual a primeira, porem os cidadãos teriam muito mais controle de suas coisas por conta dos sistemas pervasivos. Nela, os cidadãos são livres para monitorar e deixarem ser monitorados.
Dodson argumenta que a diferença entre o argumento de Brin e o dele é a prevalência de câmeras de informação integradas ao ambiente do homem. Autor faz analogia com a tese de Weiser sobre computação ubíqua, a qual descreve uma série de processos onde a tecnologia se integra ao ambiente do homem. Dodson finaliza pontuando a que a promessa da internet das coisas promete mudar nossas cidades e nossos relacionamentos, até mesmo mais que a ferrovia. Usa o exemplo da cidade chinesa de Shenzen, que em pouco tempo transformou-se de uma pequena vila de pescadores em um poderoso polo industrial, marcando a economia chinesa.
1 . Ambientes inteligentes e sua promessa
Neste primeiro capitulo, Rob Van Kranenburg assume que seu conceito de Internet das Coisas é fundamentado na tecnologia RFID (etiquetas de radio frequência,) que concede a lugares e objetos um potencial para troca informacional. Nesta direção, Van Kranemburg aponta algumas questões que figuram mais de modo provocativo que esclarecedor. O interesse do autor recai nas seguintes interrogações: como armazenar fluxos de informações em tempo real? Como fazer um mapa-los? Que são nossos sismógrafos? Como podemos combinar processos em tempo real com o significado que eles deveriam significar? Como encontrar maneiras de decidir o que é de dados e que não é de dados no espaço de fluxos?
Iniciando sua argumentação, o autor remonta a filosofia pré-socrática, onde haviam três domínios de conhecimento, acompanhados de três estados de saber correspondentes e igualmente importantes.
Na filosofia de Sócrates havia três domínios de conhecimento, com três estados correspondentes de saber igualmente importantes; Theoria, Techne e Praxis. Theoria é o domínio de conhecimento, onde reconhecemos nossos conceitos de teoria e epistemologia. Em Techne – com o seu domínio de conhecimento, a poesis podemos recuperar o conceitos de tecnologia e poesia – relacionadas, por exemplo, da seguinte forma: a poética de Sócrates pode ser vista como um catálogo de técnicas literárias. Von Kranemburg observa ainda que significado original da palavra ‘tecnologia’ diz respeito sobre o método ou saber fazer diário, o conhecimento do homem empregado sobre a técnica. Cita a Grande Exposição de 1851, em que a tecnologia passou a ser associada constantemente às máquinas atribuindo o domínio do conhecimento a questão da Praxis.
O caminho traçado por Karnenburg nos leva a ideia de que a pesquisa em interfaces inteligentes lidera as metáforas e os caminhos que eles focam nos laboratórios, explorando como os lugares e objetos podem ser ampliados com a informação. Nesta direção, o autor usa como referencial a tese da computação ubíqua (Weiser, 1991) para propor sua ideia de ambiente inteligente, marcado sobretudo pela ciência de contexto e a capacidade de convergir conteúdo de diferentes canais midiáticos. Mostra que as etiquetes RFID traduzem o argumento de Weiser sobre a computação ubíqua, pois trata-se e uma tecnologia de computação que desaparece no backgroun do ambiente do homem. Para Van Karnenburg, a busca pela ubiquidade fez o usuário entrar em um estagio onde seu ambiente torna-se interface, uma ferramenta fundamental para quanto a arquitetura, para integrar coisas, pessoas e informação. Neste processo, o autor destaca o papel desempenhado pelas redes sem fio na passagem da internet para a era da internet das coisas.
Por fim, o autor fala dos quatro niveis hierárquicos necessários para a introdução de uma nova tecnologia.
1 – Code: trata-se do axioma que cerca uma tecnologia
2 – Nó : novos dados e estruturas gerados pela tecnologia
3 – Link : aplicações e serviços que uma nova tecnologia afeta
4 -Rede – questões culturais e politicas que emergem junto da nova tecnologia
2 . Inteligência ambiente e suas “pegadas”
Neste capítulo, Kraneburg vai enumerar 5 capturas ou pegada destes ambientes inteligentes, discutidos no capitulo anterior. As pegadas descritas pelo autor consistem nos modos que estes cenários se apropriam do espaço do usuário. Neste caso, o autor pontua que estes ambientes são composto por objetos que “conversam entre si”, configurando a chamada internet das coisas. Esta argumentação leva para a primeira pegada identificada por Van Kranemburg – que não há concorrência que dispute com o paradigma da computação ubíqua e seus semelhantes – ambientes inteligentes, tecnologias calmas, ciência de contexto dentre outros caminhos que apontam para o desaparecimento do computador ambiente humano. Para o autor, em qualquer nível ou perspectiva que olharmos o ambiente do homem o usuário vai encontrar a chamada computação distribuída.
A segunda “pegada” descrita pro Kranenburg aponta que um ambiente inteligente deve se manter estável, ou seja, o usuário necessita que os serviços oferecidos nestes cenários estejamconstantemente disponíveis. A terceira pegada da inteligência ambiente (AmI) é a sua capacidade de armazenamento de armazenamento de informação. Inconscientemente, os usuários não percebem que ao lidar com o meio eletrônico acabam inserindo dados pessoais. A quarta captura descrita por Kranenburg é a “beleza” dos ambientes digitais, ou seja, todo o conteúdo relacionando ao usuário é disperso e fragmentado em blogs, websites, sites de relacionamento e etc., os quais ainda não conhecemos seus efeitos nocivos.
Kranenburg aponta a quinta captura da inteligência ambiente, chamada o ouro lado da moeda, ou seja, mesmo com seu potencial favorável os ambientes digitais podem ser apropriados de maneira negativa ou para fins ilícitos – nas palavras do autor, guerras de civis, brigas de gangues etc. Não se pode disponibilizar aos cidadãos aparelhos com certas funcionalidades e esperar que determinadas formas de uso e apropriação – devemos sempre considerar o outro lado da moeda.
Por fim, Kranenburg revela certas preocupações estética para favorecer o uso da inteligência ambiente. Por exemplo, este cenário requer níveis muito superficiais de agenciamento da parte de seus usuários. Qualquer alteração nos axiomas que compõem o background de um ambiente altera o nível de agencia dos cidadãos. Assim, o nível de agencia deve ser mais ameno que em outros cenários criados a partir da disseminação das novas tecnologias.
Veja também: