O GPC começou a discussão do livro Mobilities, de John Urry (Cambridge, Polity, 2008). Nesse semestre vamos discutir, além desse livro, as obras de Falkheimer, J., Jansson, A ., Geographies of Communication. The Spatial Turn in Media Studies., Göteborg,Nodicom, 2006; e Farías, I., Bender, T., Urban Assemblages. How Actor-Network Theory Changes Urban Studies. NY, Routledge, 2010.
Abaixo a resenha da primeira sessão de discussões feita por Paulo Vitor:
Um livro para pensar as mobilidades, as formas de movimento, os meios de locomoção e suas relações com a sociedade e as estruturas técnicas das quais dispomos: esta a proposta do sociólogo John Urry em seu livro Mobilities, cuja leitura temos realizado no GPC.
A obra é estruturada em 3 partes: na primeira, Urry trata de nos situar frente a diversas teorias, métodos e paradigmas acerca da mobilidade. Em seguida, tece relações entre os modos de movimento e comunicação, finalizando com reflexões sobre o cenário social, as redes de relacionamento, questões socioeconômicas, modos de inclusão e exclusão tendo em vista a mobilidade, dentre outros tópicos concernentes.
Em nossa primeira reunião, discutimos os 3 capítulos da primeira parte. Inicialmente, o autor nos fala de diferentes modos de encarar a mobilidade, apresentando 4 sentidos de mobilidade que devem ser consideradas: 1) como uma propriedade daquilo que pode se mover; 2) como uma multidão a necessitar de regulação precisamente por não ser fixa; 3) como uma possibilidade de mudanças sociais (ascensão ou declínio em classes econômicas, o que caracteriza movimentos verticais); 4) ou como migrações, transposições entre fronteiras (movimento horizontal). Essa divisão serve como orientação para o transcorrer do texto – uma forma de lembrar que o autor não trata meramente de mobilidade segundo um entendimento físico.
Em suas análises, Urry faz uso recorrente da ideia de sistemas, os quais funcionam como base para previsão e repetição de nossas ações. Sistematizando e domando o mundo, a humanidade conseguiu criar situações de menor risco para ela, o que, por sua vez, apresenta largas implicações para com a mobilidade. Exemplo de sistemas seriam o telégrafo, as linhas férreas ou os sistemas de abastecimento de água, que não apenas acompanharam mas também favoreceram a modernização das cidades.
No segundo capítulo, o sociólogo apresenta seu paradigma das mobilidades, o qual se pretende multidisciplinar (ter em vista diversos conhecimentos), conjuntural (observar múltiplos elementos em ação) e capaz de estabelecer uma ciência social orientada ao movimento – uma vez que as ciências “imóveis” ignoram ou minimizam o papel da mobilidade em suas análises. Por exemplo, autor busca em Georg Simmel uma base para pensar as organizações espaciais e suas consequências sobre a mobilidade das pessoas, bens e serviços, mostrando que certas estruturas físicas têm possibilidade de (re)configurar nossas construções sociais.
Neste ponto, Urry apresenta diversas aproximações teóricas sobre a mobilidade, tais como sedentarismo, nomadismo, migrações, diásporas, dentre outros, a merecer destaque a ideia de motility, termo que diz respeito às potencialidades que um determinado espaço físico provê ao movimento. É notável também que o autor se utilize bastante da teoria da complexidade para explicar fenômenos que antes eram tidos de modo linear. A base de tal entendimento está na constatação de que a física newtoniana já não dá conta de tudo e que, assim, é necessário observar os sistemas de maneira híbrida. Aqui o autor toca rapidamente na teoria ator-rede, com a qual também temos trabalhado constantemente no GPC.
Para finalizar a primeira parte, Urry vai traçar linhas em defesa de seu paradigma das mobilidades, tendo em vista que as ciências sociais são transformadas pela movimentação e que esta merece receber atenção para além da mera análise das estruturas físicas. O autor, assim, enumera diversos pontos de destaque para este novo modo de pensar o movimento, tais como: as relações sociais estão envoltas a conexões; estes elos criam sistemas complexos (objetos e humanos não estão separados); a mobilidade está relacionada ao poder (disciplina, segundo Foucault; controle, para Deleuze); os sistemas de mobilidade estão cada vez mais complexos e interdependentes, além de alienarem as pessoas de sua operação; e o funcionamento dos sistemas tem efeitos sobre o homem e suas atividades cotidianas.
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