ERROS, FALHAS E PERTURBAÇÕES NA CULTURA DIGITAL. Por uma epistemologia do fracasso no campo da comunicação (CNPQ – BOLSA PQ – 2024 – 2029)

André Lemos, Professor Poscom/UFBA, Coordenador

Resumo: Este projeto de pesquisa busca, a partir de um aprofundamento teórico-metodológico do “neomaterialismo”, realizar uma investigação dos produtos, processos e problemas da cultura digital tendo como ponto de partida os erros, falhas e perturbações gerados pela cultura digital em três áreas: Inteligência Artificial, Plataformas digitais e Infraestrutura Digital. Busca consolidar um pensamento neomaterialista no campo da comunicação e analisar produtos da cultura digital tendo como operadores metodológicos os disfuncionamentos da atual cultura digital. Para isso, a metodologia utilizada parte desse pressuposto teórico propondo analisar casos concretos nos três domínios escolhidos. A premissa é de que, pela abordagem teórico-metodológica neomaterialista, a investigação sobre erros, falhas e perturbação em sistemas digitais são importantes instrumentos para revelar problemas político e comunicacionais atuais tais como fake News, colonialismo e soberania de dados, datificação, plataformização, performatividade algorítmica, vieses, vigilância e ameaça à privacidade, entre outros fatores. Identificar controvérsias, erros, falhas e perturbações é uma forma de revelar agenciamentos em jogo e gerar entendimento sobre os problemas da cultura digital no mundo e particularmente no Brasil. Para cada um desses três objetos de investigação, pesquisas serão realizadas no Lab404. A pesquisa busca então, aprofundar uma discussão teórico-epistemológica importante no campo das ciências humanas e sociais (neomaterialismo); Desenvolver estudos em uma área pouco explorada, como os erros na cultura digital; consolidar a metodologia que tem sido no Lab404; Realizar cursos de graduação e pós-graduação sobre o tema e produzir artigos, livros, capítulos de livro e; Formar pesquisadores de alto nível (mestrado e doutorado).

Núcleo de tecnologia do MTST e a luta de base por soberania digital

Walmir, doutorando; André Lemos, professor Poscom/UFBA

Resumo: Investiga como movimentos sociais podem promover autonomia local e soberania tecnológica em um cenário de dependência de plataformas infraestruturais dominadas por grandes corporações estrangeiras. Utilizando uma abordagem neomaterialista e o método em quatro etapas de André Lemos (2020) – modo, inventário, transdução e reagregação –, a pesquisa analisa estratégias e paradoxos da busca por soberania digital em contextos de resistência local. O objetivo é discutir os desafios e as inovações estratégicas que emergem nessa luta, destacando o impacto das dependências infraestruturais sobre as dinâmicas de busca por mais autonomia.

Entre algoritmos e autoapresentações: o programa de recompensas do Tiktok e a performatividade na sociedade plataformizada

Thiago, doutorando; André Lemos, professor Poscom/UFBA

Resumo: Uma pesquisa sobre como o Programa de Recompensas do Criador (PRC) do TikTok influencia as práticas de autoapresentação e monetização dos criadores de conteúdo, analisando as dinâmicas de performatividade algorítmica em uma sociedade cada vez mais plataformizada. A pergunta que guia a investigação é: de que maneira o PRC impacta as práticas criativas e as estratégias de monetização dos criadores no TikTok? A pesquisa emprega um referencial teórico fundamentado nos conceitos de plataformização (Van Dijck et al., 2018), performatividade algorítmica (Bucher, 2018) e trabalho de plataforma (Grohmann, 2020), além do aporte do neo-materialismo (Coole e Frost, 2010; Gamble et al., 2019) e da teoria ator-rede (Latour, 2012). A hipótese central sustenta que os algoritmos operam como coautores na produção de conteúdo, condicionando as escolhas criativas dos criadores sem anulá-las completamente, o que gera tensões constantes entre inovação e conformidade. Este estudo se justifica pela crescente influência das plataformas digitais na economia criativa e pela necessidade de entender como os algoritmos impactam a autonomia e a sustentabilidade das carreiras dos criadores de conteúdo. Pretende-se, assim, compreender as tensões entre agência humana e algoritmos, evidenciar as implicações do PRC para a sustentabilidade das carreiras digitais e contribuir para discussões sobre regulação e transparência em plataformas digitais.

Controle e Vigilância em relacionamentos íntimos: análise do Whatsapp e da AirTag da Apple

Flávia, doutoranda; André Lemos, professor Poscom/UFBA

Resumo: A partir de uma abordagem neomaterialista, o projeto inicia na análise das materialidades (discursivas, de interface, de código, etc.) do Whatsapp e da Airtag para entender quais funcionalidades ajudam a banalizar socialmente o controle e vigilância digitais em redes de relacionamentos íntimos.

Rupturas planetárias em 78 minutos: o bug da CrowdStrike e o paradoxo da segurança hiperconectada

Alessandra, doutoranda; André Lemos, professor Poscom/UFBA

Resumo: O estudo piloto (Projeto Lab404) investiga o bug da CrowdStrike de julho de 2024, quando uma única atualização do arquivo Channel 291 causou uma ruptura global durante 78 minutos em mais de 8,5 milhões de dispositivos, revelando o paradoxo das infraestruturas de proteção hiperconectadas. A pesquisa examina como sistemas desenvolvidos para garantir segurança podem se tornar vetores de instabilidade sistêmica, materializando tensões entre soberania digital e colonialismo de dados. Utilizando a arquitetura PDPA-F e a etnografia ciborguiana, o estudo analisa quatro registros temporais distintos (técnico, institucional, da ameaça e especulativo) para compreender como a falha em uma plataforma centralizada propaga perturbações em escala planetária. A exceção chinesa à cascata global de falhas serve como contraponto para investigar como protocolos técnicos, decisões corporativas e dinâmicas geopolíticas intra-agem na produção de realidades infraestruturais. O bug da CrowdStrike contribui para uma compreensão mais ampla de como as falibilidades são constitutivas das infraestruturas comunicacionais contemporâneas.

Quem vigia os vigilantes? Uma investigação do Hotjar como ator oculto durante a navegação no site do QuintoAndar

Gabriel, mestrando; André Lemos, professor Poscom/UFBA

Resumo: Este estudo explora o uso da ferramenta Hotjar no site do QuintoAndar, abordando como a coleta de dados pessoais ocorre de maneira oculta durante a navegação. Partindo do questionamento “Quem vigia os vigilantes?”, o artigo examina as implicações éticas e legais do monitoramento de usuários por meio de cookies e scripts, analisando a transparência e a conformidade dessas práticas com leis de proteção de dados. A pesquisa utiliza uma abordagem neomaterialista para desvendar a rede de atores envolvidos nessa demonstração de uma faceta do capitalismo de vigilância e propõe uma reflexão sobre a responsabilidade e os direitos de privacidade dos usuários no ambiente digital.