Resenhas

Resenha do livro "Internet of Things", parte 2

VAN KRANENBURG, R. The internet of Things. A critique of ambiente technology and all-seeeing network of RFID. Amsterdam: TenworkNotebooks, 2008.

Por André Holanda

Capítulos 3 – Bricolabs

O capítulo 3 começa com a apresentação do projeto Bricolabs do coletivo MetaReciclagem. A iniciativa oferece oficinas e busca a construção de redes comunitárias e cooperativas de reciclagem de elementos de hardware assim como de software open source e conteúdo livre, não-proprietário.

Para Kranenburg, ele mesmo um dos incentivadores do movimento junto com o brasileiro Felipe Fonseca, os Bricolabs representariam um primeiro passo na construção de redes colaborativas capazes de oferecer uma alternativa às redes capitalistas baseadas em hardware e software proprietários.

O autor cita Doron Ben-Atar ao apresentar as ambiguidades da política de direitos intelectuais sobre tecnologia no começo da história americana (p.32). Seguindo os autores a decisão de respeitar ou não os direitos autorais na área da inovação tecnológica seria muito mais estratégica que ética.

O caso dos videogames hackeados é também um exemplo do padrão contraditório das posições americanas. A perspectiva defendida por Kranenburg reinvindica o direito de rodar qualquer software nos dispositivos que de possui assim como o direito de redistribuir este software livremente (p.33) Assim como os videogames subutilizados pela sua industria, surge o exemplo do Skype Phone, cujo potencial supera em muito as funcionalidade liberadas pela sua fabricante. Para MetaReciclagem, deve-se pensar a conectividade em termos de funcionalidades e não de dispositivos.

Esta filosofia é utilizada pelo projeto Hiveworks que converte dispositivos do dia-a-dia de forma a expandir suas funcionalidades e permitir a comunicação entre eles de modo a criar redes polivalentes e abertas.

Perspectivas de realização deste tipo de projetos ganham o impulso com dispositivos como o Reprap, uma impressora tridimensional que promete permitir a prototipação caseira de peças e artefatos e que é capaz até mesmo de produzir suas próximas peças. A ideia é levar a produção independente até mesmo ao nível da fabricação caseira de peças e objetos.

Para Kranenburg, o bricophone seria a realização de todos estes projetos com a flexibilidade das redes Hive, baseado em tecnologias, software e conteúdo livre. O autor fecha o capítulo com a proposta de responder as ameaças de uma Internet das Coisas baseada nos interesses e valores corporativos com uma “camada criativa” de iniciativas e conceitualizações que coloquem os valores coletivistas em primeiro lugar.

Capítulo 4 – How to Act.

Fechando o livro, Kranenburg sugere ações a serem tomadas para evitar os riscos de uma sociedade oprimida por tecnologias cada vez mais invasivas.

A imagem oferecida pelo autor para a alternativa que se nos apresenta é a oposição entre a cidade selvagem (feral city) e a cidade de confiança (city of trust). A primeira é dominada pela violência nas ruas e pela corrupção das corporações capitalistas, que se beneficia da informação roubada dos consumidores para a acumulação e maximização do lucro e acaba por produzir cidadãos destituídos de voz e comando. A relação entre confiança, desconfiança e informação (p. 49) é a chave para evitar seus males.

A “cidade da confiança” por seu turno, pode surgir da força oculta nas massas que habitam as metrópoles hiperconectadas da contemporanidade. Segundo o autor, já surgem iniciativas neste sentido, uma delas é o DIFR que busca uma forma de vencer a desconfiança em relação à tecnologia RFID através da criação de um Domínio Público na Internet das Coisas. Uma das formas de construir confiança em torna das tecnologias pervasivas como a RFID seria garantir que o consumidor esteja informado sobre as emissões feitas pelos produtos à sua volta, principal vulnerabilidade trazida pelas etiquetas RFID à privacidade do consumidor.

A estratégia da negociabilidade (p. 54) apresentada por Kranenburg seria uma forma de virar a mesa através da apropriação pelo consumidor das tecnologias pervasivas, criando modos criativos de exploração das brechas nos sistemas de controle e vigilância e colocando nas mãos do cidadão novas ferramentas comunitárias de comunicação e compartilhamento dos recursos tecnológicos de hardware e software da Internet das coisas.

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