Sentient city: ubiquitous computing, architecture, and the future of urban space, 2011.
Editor: Mark Shepard, artista, arquiteto e pesquisador. Projeto atual: “Hertzian Rain” que trabalha com a produção sonora na cidade.
Resenha Moisés Costa.
Neste capítulo é apresentado o projeto do chamado fusível natural (Natural Fuse), que tem como principio a geração de energia a partir da capacidade de pequenas plantas de capturarem carbono. Na verdade, cada planta se torna uma geradora de eletricidade, que é conseguida a partir de um mecanismo sob a planta, que forma uma unidade em rede, ligada pela internet, onde o conjunto de plantas troca informações sobre a capacidade do sistema. A soma dessas unidades permitiria com que algumas atividades que demandassem mais energia fossem possíveis, se o sistema não for usado por todos ao mesmo tempo.
Cada unidade do sistema foi entregue para uma pessoa, que ficou responsável por cuidar e usufruir os benefícios do sistema. Assim, o indivíduo encontra em cada unidade, três botões para controlar a energia que pode usufruir plantas: off, selfless e selfish. Ou seja, a cada indivíduo poderia ser altruísta no uso, fazendo consumo apenas da energia gerada pela unidade, ou selfish, onde a unidade proporcionaria mais energia que sua produção. A conseqüência do uso, em demasia, do botão selfish é a morte da planta de cada unidade de energia.
É interessante notar, assim como pontua o autor do projeto, que seu fim não é meramente ecológico (no sistema entre as plantas), mas antes um projeto de estudo de participação onde os indivíduos, ou actantes humanos, precisam tomar decisões que beneficiem a comunidade. Entretanto, a grande dificuldade esta no grau de altruísmo dos actantes humanos, que na maioria dos casos deixam suas unidades morrerem e, conseqüentemente, “matam” o sistema de benefícios. O dilema que faz com que os actantes humanos usufruam demasiadamente de sua unidade é o do ‘prisioneiro’, uma vez que ele não sabe o quanto os outros estão usando de suas unidades e, conseqüentemente, o faz usar o máximo por imaginar que os outros também estejam fazendo o mesmo no sistema.
Neste capítulo, o projeto partiu da ideia de tentar compreender para onde o lixo vai assim que é jogado fora, além de tentar entender como funciona a rede de distribuição de resíduos e qual sua conseqüência em larga escala.
Para fazer o rastreamento os idealizadores criaram, o que denominaram de, tags: pequenos dispositivos, com potencial de poluição mínimo, e dotados de tecnologias GSM (a mesma da maioria dos celulares atuais) que conseguissem transmitir sua localização a partir da interação com torres de telefonia móvel espalhados pelo mundo. Os idealizadores também contaram com a participação de voluntários, que surpreenderam às expectativas, não só pelo interesse em colocar as tags em seus resíduos, como também em saber sua trajetória ao longo do rastreamento.
Os autores pontuam que as cidades sencientes são facilitadas pelas novas tecnologias que conversam diretamente com os cidadãos. A construção dessas cidades também é facilitada pelo compartilhamento de informações por parte dos cidadãos e das instituições públicas. Todavia, segundo os autores, essas informações não podem ser dissolvidas, mas concentradas, porém não podem ser fechadas e devem ser de acesso para todos que compõem a rede. Somente, assim, com dados pervasivos e ubíquos, haverá condições para as cidades sencientes.
A idéia do projeto cruza com algumas premissas da Internet das cosias, onde objetos (dispositivos) podem sentir informações relevantes sobre seu ambiente, inferir a situação e comunicar instantaneamente aos dispositivos próximos ou difundir esse estado para o mundo. Conseqüentemente, este sentido pervasivo pode projetar mudanças, e no caso do projeto, concientização nos actantes humanos.
Too Smart City from David Jimison on Vimeo.
Três mobílias urbanas são alvo deste projeto, que brinca com falhas intencionais deste dispositivos para criar um ambiente futurístico e pervasivo que tenta confrontar as expectativas dos indivíduos com suas expectativas sobre os mesmos.
As três mobílias são:
1. Too smart trashcan: uma lata de lixo, aparentemente comum, que analisa o que é descartado e joga de volta para os indivíduos o que não pode ser armazenado ali.
2. Too smart bench: um banco de praça que ejeta, literalmente, as pessoas que estejam “vadiando”.
3. Too smart sign: um sinal de praça que reconhece o transeunte e mostra sinais específicos para ele, variando entre o que pode e o que não pode fazer naquele ambiente.
Para os autores do projeto, o mobiliário urbano contemporâneo é projetado para fornecer serviços públicos. As mobílias modificadas tentam oferecer interações com o ambiente. A lata de lixo participa do saneamento, o sinal mostra informações de acordo com a situação e os bancos ditam quem pode ou não ficar sentado. Mas, em síntese, essas três mobílias são “piadas” em relação às expectativas do que podem ser cidades conscientes, que deveriam sentir e pensar, não necessariamente nos termos humanos, para ser tal.
Nesse sentido, as cidades deveriam sentir varias atividades a partir de dispositivos espalhados pela cidade, provendo formas de conscientização do que ocorre, instantaneamente e em todo o tempo.