Resenhas

Resenha de Mobilities de John Urry, capítulos 7 a 9

Resenha por Diego Brotas

CAPÍTULO 7: FLYING AROUND

Neste capítulo o autor retoma discussão dos capítulos anteriores, nos quais há um relacionamento dos espaços de mobilidade com sistemas de transportes, nesta parte especificamente os sistemas aéreos.

Há no começo do capítulo uma abordagem inicial do autor, que caracteriza a história da aviação como uma das principais e mais marcantes em diversos modos, transcendendo restrições espaciais e ainda cita que a proximidade geográfica, na maioria dos países, não molda mais relações sociais.

A partir desta afirmação Urry começa a buscar uma relação entre distintos tipos de mobilidade a partir do estudo de diversas características envolvendo os espaços e sistemas aéreos. Para isso ele vai dividir este capítulo em 3 partes: 1) Na periodização das mudanças ocorridas na natureza dos espaços aéreos; 2) Aborda os riscos do transporte aéreo relacionado ao desenvolvimento de sistemas específicos que tornam o movimento realizável; 3) Na natureza dos espaços aéreos, que é caracterizada por Urry como lugares de habitações enraizadas.

A preocupação nesta parte é de fazer uma exposição de idéias que se entrelaçam a uma noção de sistemas dentro dos espaços de mobilidade inseridos nos espaços aéreos, através de um histórico de períodos comparativos dentro da história da aviação. Ele parte do princípio de que diversos sistemas, tanto materiais (avanços da microinformática) quanto sociais se entrelaçam para dar uma caracterização dos espaços aéreos. Sendo assim, ele vai criticar mais a frente a idéia Marc Augé de que os aeroportos seriam não-lugares.

Para Urry, mesmo se os espaços aéreos fossem menos distintos como lugares e compartilhassem características em comum eles não seriam diferentes de outros diversos lugares,nos quais não são apenas caracterizados pela contratualidade solitária. Sendo assim os “espaços aéreos” podem ser identificados como lugares de organização material e complexidade social caracterizados por: tédio, cotidiano, rotina, mas também por processos, sistemas e tecnologias que garantem a ocorrência de uma mobilidade global.

Sendo assim, o autor conclui que os vôos e seus sistemas são centrais na ordem global emergente, gerando movimentos de massa, novas formas de habitar, interconexão, novas desigualdades, novos lugares de encontros globais e novos modos de se pensar sobre mobilidades.

 

CAPÍTULO 8: CONECTANDO E IMAGINANDO

Neste capítulo Urry vai começar a relacionar as mobilidades descritas nos capítulos anteriores com a comunicação. Primeiramente vai fazer uma caracterização e breve descrição sobre 3 tipos de comunicação: comunicação de um-pra-um, um-pra-muitos e muitos-pra-muitos. Para ele existe um “inconsciente tecnológico” formado por distintos sistemas comunicacionais que tornam possíveis o estreitamento e rastreamento espacial de pessoas e objetos.

Há a divisão deste capítulo em 3 partes principais para indicar uma imbricação de corpos, mobilidade e ambiente e a comunicação: comunicação virtual, viagem imaginativa e viagem comunicativa móvel.

Comunicação Virtual – o autor vai abordar nesta parte a natureza “virtual” que apresenta diversos impactos para o mundo do movimento. Para isso ele vai primeiro fazer uma relação entre o crescimento da microinformática e as novas vantagens para as redes, que de acordo com ele são: a flexibilidade, escalabilidade, capacidade de sobrevivência e portabilidade.

Logo após Urry vai passar pela discussão das comunidades virtuais, na qual ele argumenta que não há uma fragilidade nas redes e suplantação dos espaços pré-existentes como suportavam diversos autores pois de acordo com ele a comunhão e emoção não são relacionadas a um tipo de lugar e a presença intermitente é importante mesmo dentro dos espaços virtuais. Ele ainda vai concluir esta parte afirmando que a viagem ou movimento virtual se tornou parte do cotidiano das pessoas e que transformou a característica da co-presença.

Viagem Imaginativa – nesta parte, a partir de uma caracterização da TV, Urry vai identificar e descrever movimentos (ou mobilidades) que permitem acessos intensificados a outros lugares, culturas e pessoas. Vai citar também diversas formas de viagens imaginativas como: lembrança, textos, guias e folhetos, escritas de viagens, fotos, postais e filmes.

Viagem Comunicativa Móvel – há uma descrição de como a comunicação está relacionada atualmente com a mobilidade. Primeiramente apresenta a idéia de que o uso de objetos como ipod, laptops, e usos de telefones celulares para a caracterização de um movimento corporal aumentado.

Mais adiante há uma identificação de como a telefonia móvel tem elevado a portabilidade a novos limites que tem gerado novos affordances: para produzir um novo conjunto de objetos que possam ser utilizados em movimento, para fazer movimentos corporais que geralmente precisam ser “aumentados” pelos dispositivos móveis e para a mudança de relacionamento para além da conectividade produzidas por novos tipos de sociabilidade em movimento.

Dentro deste prisma, também, Urry vai relacionar e caracterizar os espaços destas comunicações como “interespaços”, que são lugares onde diferentes áreas e domínios de atividades se sobrepõe.

CAPÍTULO 9: PORTÕES PARA O CÉU E O INFERNO

Este capítulo aborda noções de espaços para a produção de desigualdades sociais relacionadas a mobilidades. O autor vai analisar que é notório como diversas mobilidades fragmentam sociedades nacionais através do surgimento do “local”, do “regional”, do “sub-nacional”, da “rede”, economia “diaspóricas” e “globais”, identidades e cidadãos. Ele procura examinar detalhadamente os processos de mobilidade que produzem e reforçam desigualdades sociais nas sociedades contemporâneas. Pra tentar identificar estes processos Urry divide este capítulo em 3 partes: cidadania e desigualdade, acesso e capital rede.

Cidadania e desigualdade – há a análise de algumas conexões entre diversas noções de cidadania e desigualdade social. Primeiramente o autor vai caracterizar a cidadania como a reivindicação de todos para usufruir das condições (de uma vida civilizada) e uma reivindicação para ser admitido um compartilhamento dentro de um patrimônio social, o que significa ser aceito como membro de uma sociedade, como cidadão. Ele caracteriza, a partir dessa idéia, e relaciona duas formas de cidadanias com mobilidades: 1) muitas cidadanias e identidades proliferam competindo e em alguns casos minando uma identidade nacional, são estas cidadanias de fluxo, preocupadas com as mobilidades em diversas fronteiras; 2) A idéia de uma cidadania nacional perde terreno para mais modelos universais de adesão localizada dentro de uma noção de desterritorialização dos direitos universais pessoais.

Acesso – nesta parte o autor descreve como a desigualdade social (relacionada ao acesso a diversas coisas) afeta a mobilidade. Para ele há 4 componentes para a noção de acesso relacionada a mobilidade: 1) de que todas as mobilidades requerem recursos econômicos; 2) Aspectos físicos que podem afetar certas capacidades físicas para exercer a mobilidade; 3) A organização dos serviços e facilidades e 4) Disponibilidade temporal.

Capital Rede – é a parte principal deste capítulo, pois Urry vai desenvolver essa noção de capital rede, no qual é uma construção de relação destes aspectos de “acesso” da parte anterior, reconstruídos por meio da análise do capital social desenvolvido por Pierre Bourdieu. De acordo com ele o capital rede aponta para as relações sociais reais e potenciais, nas quais permitem as mobilidades. E ainda é a capacidade de gerar e sustentar relações sociais com pessoas que não estão necessariamente próximas, nas quais podem gerar benefícios emocionais, financeiros e práticos.

Urry chega a conclusão de que o conceito de capital social é assim insatisfatório a partir do momento que somente comunidades em pequena escala podem gerar proximidades “face-a-face” e relações de confiança. Em contra partida, o conceito de capital rede demonstra como a co-presença e a confiança podem ser geradas a distância e isso pode pressupor o surgimento de um diferente e novo campo de mobilidades.