Resenhas

Resenha do livro "Sentient City", parte 1.


Sentient city: ubiquitous computing, architecture, and the future of urban space, 2011.

Editor: Mark Shepard, artista, arquiteto e pesquisador. Projeto atual: “Hertzian Rain” que trabalha com a produção sonora na cidade.

Resenha Macello Medeiros – Prefácio, Introdução, Caps. 01, 02 e 03.

Prefácio

O livro é fruto de um evento realizado no outono de 2009 pela Architectural League e tenta responder a seguinte questão: “ao passo que as tecnologias digitais parecem estar desmaterializando mais mais o mundo a nossa volta (tal qual livros, cds e fotografias, qual o impacto que elas possivelmente podem ter em relação a inevitável materialidade das construções e das cidades? A proposta é conceber outra forma de compreender o espaço urbano, através dessa complexiadade que surge unindo as cidades e as tecnologias digitais (“tramas” do texto de vinícius). De forma secundário, os estidos de casos e ensaios do livro tem como objetivo mostrar como é possível trazer os arquitetos e designers para uma discussão sobre a cidade de forma a compreendeê-la não apenas como um espaço físico, mas como o resultado destas relações entre materialidade e imaterialidade ou atores humanos e não humanos.

Introduction

Este capítulo parte da ideia de que as cidades são inteligentes. O autor nos leva a compreensão de que esta “cidade inteligente” tem a ver com uma propriedade da cidade de reagir a determinado estímulos, que, de acordo com os projetos descritos no livro, são provocados e coletados (feedback) por tecnologias digitais através de sensores. Daí a denominação de uma “cidade sensitiva” ou “capaz de sentir”. Pode-se perceber que em todos os projetos existe uma complexidade na aplicação das tecnologias digitais para este fim. Os projetos utilizam diferentes sensores e formas de conexão entre hardwares e softwares que fazem com que a cidade seja “capaz de sentir”. Porém, neste capítulo, é apontado o estranhamento quando se pensa dessa forma – a cidade capaz de sentir –, já que a proposta dos projetos atribui a cidade um conceito não verificável nos atores não humanos. No decorrer dessa introdução, o autor vai descrevendo os demais capítulos reforçando as características sensitivas de cada um dos projetos relacionados. A grande questão que emerge após a parte do livro dedicada à apresentação dos projetos, esta relacionada à resultante da interceção destes três elementos: computação ubíqua + arquitetura e espaço urbano que vem a ser o subtítulo do livro.

Richard GrusinO capítulo começa descrevendo o projeto Living City, evento de exposições/mostras organizado pelo renomado coletivo de arquitetos, o Archigram, grupo de arquitetos que já buscavam essa interação das tecnologias e da cidade. O living city trouxe uma atitude provocativa de pensar a cidade como uma arquitetura que necessita atribuir fluxos com a vida moderna, desvelando na cidade a sua condição cultural, buscando, com isso, trazer um outro olhar para o arquiteto. Para tanto este arquiteto precisa vislumbrar novas formas de pensar a cidade, ou seja, pensar em uma nova arquitetura: “uma dinâmica urbana composta de luz, som e outras formas de comunicação urbana: comunicação estáticas + comunicação móvel + comunicação verbal e não verbal + signos + símbolos.” Nessa nova arquitetura é possível “ver acontecer + ouvir os sons + ver os fluxos”, em contraponto à noção do espaço formal, estático e imóvel. Ou como sugere Doreen Massey, enxergar o espaço como “aberto e em constante mutação”, o espaço de fluxos.

O objetivo é não olhar a cidade como mero espaço urbano formado por ruas, calçadas, espaços públicos, etc. Para tanto, o autor cita exemplos da integração dos computadores no espaço, elegendo a computação ubíqua (Weiser) como um elemento chave na propriedade de reação da cidade aos estímulos das pessoas e objetos. Novamente é abordada a discussão sobre “a capacidade de sentir de um não humano, relacionado aos conceitos de materialidade e imaterialidade, finalizando com a ideia de que o conceito de “senciência” rompe com uma forma de pensar a natureza das cidades e seus cidadãos. O autor relata alguns ceários apresentados pela experiência do coleitvo Archigram. Para o autor, partindo destas premissas, a cidade pode ser compreendida através de dados (data) coletados por sensores, ou seja, a compreensão do espaço através de uma forma não visual na qual as topologias das redes de tecnolgias digitais e a sua interceção com as práticas sócio-espaciais (o trabaho, para Lefebvre), se tornam mais importantes que a geometria formal das cidades (ou a representação do espaço).

Para o autor, os artefatos digitais (celulares, MP3, etc.) estão moldando nossas experiências no espaço urbano até mesmo mais que a arquiteura das cidades. Em determinado momento no capítulo, o autor vai tratar de como a relação entre a computação ubíqua e as mídias locativas cuja atuação permite que a cidade seja “escrita” e “lida”. Com isso, qualquer informação pode ser acessada, compartilhada e distribuída através de Tecnoligias e serviços baseados em localização (LBT e LBS). A produção de conteúdo, portanto, é fruto da reação da cidade provocada pelo uso de tecnologias digitais acessíveis a qualquer pessoa. Entre os projetos que seguem essa lógica, ele cita o Yellow Arrows, o Urban Tapestries, etc. como exemplos de um novo tipo de ambiente “consciente”. Com isso, a cidade reage ao habitante (sentimento, feeling) sem necessariamente connhecê-lo ou identifica-lo; a cidade não reage repondendo diretamente à pessoa, mas ao ambiente. No final do capítulo, é possível construir uma lógica de pensar nos profissionais, os arquitetos responsáveis inicialmente pela criação da materialidade da cidade (prédios), em contraposição à cidade dos “sentimentos”, do feelings. A grande questão seria como unir estas duas perpectivas, possivelmente quebrando este estígma do arquiteto como pensador da cidade apenas no seu aspecto material.

Cap. 02 – Systems, Objectified

Este capítulo destaca alguns projetos e grupos de artistas, arquitetos e designers cujo principal objetivo é aumentar estímulos do ambiente como foi o caso do Living City organizado pelo Archigram que provocou nos visitantes uma desconexão do espaço de galeria a partir da percepção das relações da rotina diária. Outro projeto relatado é o The System of Objects criado a aprtir da tese de doutorado de Jean Braudrillard baseado na definição de Lefebvre do “morador” não como um dono ou usuário do lugar mas um “engenheiro ativo da atmosfera”.

Outros projetos com a mesma temática e preocupação dos anteriores, utilizando desde conceitos da arte até robótica para provocar nos visitantes destes projetos e exposições percepções diferenciadas do espaço urbano. Por fim, o Instant City, um projeto conjunto do Archigram e do coletivo Ant Farm. O Instant City “busca definir a vida da cidade como resultado fluxo de informação criando por outro lado uma grande rede urbana ao invés da circulação de produtos e serviços enfatizado pelo seu predecessor”.

Cap. 03 – New Interaction Partners for Enviroment Governance

A principal proposta deste capítulo é apresentar um projeto realizado nas águas do East River em Nova Iorque, o Amphibious Architecture, cuja essência é chamar a atenção das pessoas para um ambiente que muitas vezes é desconhecido para a maioria delas. No entanto, antes de apresentar o projeto de forma minunciosa, o autor anorda alguns tópicos que consideram fundamental para o seu entendimento: a cidade, o carbono, a água, os prédios, os humanos, os invólucros. Em relação à cidade, o autor fala da sua compreensão como uma complexidade de fluxos e limites determinados pelos invólucros que compreendem esta cidade, tal como as fachadas (faces) dos prédios e as linhas que separam os bairros. No tópico sobre carbono, o autor destaca a participação deste elemento imperceptível, mas que merece uma atenção na cidade principalmente quando o desequilíbrio entre as taxas dele e as de oxigênio. Na cidade, existe também um fluxo que compreende esta troca entre o dióxido de carbono e o oxigênio, seja na superfície, seja em baixo d’água quando são observados a relação entre os peixes e as plantas aquáticas. É o que chamamos “Ciclo do Carbono”: “uma rede de fluxos que envolve humanos, animais, plantas, ar e água, em uma transformação essencial e sem fim do planeta e da cidade”.

Dessa mesma forma é a água na cidade, considerada atualmente como uma preciosidade que se deve preservar para um bom funcionamento da cidade. Neste tópico, o autor destaca um projeto de energia limpa implantado no leito East River através de turbinas instaladas que acabou gerando impactos tanto na vida animal quanto vegetal do rio. No entando, em se tratando de projetos desta natureza realizados nos leitos dos rios que correm pela cidade ainda são pouco explorados. No caso dos prédios, ocorreu uma mudança em relação ao uso de pré-moldados nas construções para prédios construídos de forma que as facadas possam ser aproveitadas com impacto estético nas cidades. Dentre estes, o autor destaca os invólucros eletrônicos nas cidades de Seoul, Shenzhen e Singapura. A percepção do autor quando se refere aos humanos dentro desta análise’e de uma verdadeira “simbiose” na qual estes são considerados o elemento influente e de interdependência nos fluxos dos outros elementos vistos até agora.

Em relação aos invólucros, o autor estabelece sete condições: tangível ou não tangível (bulding and not building), pequenos ecosistemas, interconeão em rede, públicas, interfaces para informação, ultra sensibilização, limites porosos ao invés de fronteiras duras. Por fim, o autor apresenta o projeto Amphibious Archtecture como sendo um exemplo de como estes invólucros podem ser reunidos em uma experiência na cidade. O projeto reúne uma série de procedimentos como redes eletrônicas, sensores para monitorar peixes e também níveis de carbono no fluxo do East River em Nova Iorque.

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