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TAR – algumas questões sobre pesquisa em arte (e em “ciências duras”)

(De Lama Lâmina, de Matthew Barney. Foto de Leonardo Finotti)

 

Ontologia?

Não explicar algo, mas as condições da existência disso. Talvez não seja a melhor definição da diferença entre teoria e ontologia, mas nos dá uma direção: a Teoria Ator-Rede (TAR), apesar do nome, não explica as coisas – no sentido de dizer qual a essência única que as diferencia de tudo –, mas se concentra na formação ímpar delas enquanto conjunção de conjunções.

Isso partindo do estritamente empírico, não imputando aos objetos o que não esteja lá, presente (ao menos aos olhos e ferramentas do observador).

Robôs e arte

https://www.youtube.com/watch?NR=1&v=5FMSo2W2ET8&feature=endscreen

Moka-Moka, robô criado por Egils Mednis. Conforme o final do vídeo, “This is robot art! Unpredictable and unique” – ênfase no resultado gerado pelo robô, para além do que o criador poderia prever.

 

https://www.youtube.com/watch?v=wnHy5MWH0pM

Neste outro exemplo, ao contrário, a posição do artista é clara (segundo a descrição acessível quando se abre o vídeo no Youtube): o robô é considerado “apenas outra ferramenta” que o artista usa.

 

Para alguns, um robô pintando um quadro é, sem dúvida, o trabalho de um ser humano, aquele que fez o programa informático/o artefato em si, o “verdadeiro” autor. Para outros, quem está objetivamente fazendo a obra é a máquina – levando-se em conta aí a não necessária supervisão do engenheiro (autonomia da máquina), as milhares combinações (de difícil cálculo prévio) que o computador interno possa fazer e, não se pode esquecer, a chance do robô quebrar ou apresentar um mau funcionamento que o force a um movimento totalmente fora do esperado, e mesmo do possível anteriormente, criando, logo, algo imprevisível. Esta última perspectiva é justamente a da TAR, o focar não no que está (supostamente) por trás, mas no aparente.

Como ontologia empírica, podemos imaginar que (uma afirmação que deve ser processada com cuidado) a TAR permite pensar a existência de “tudo”, independente da ciência envolvida – dos elementos e constituição de uma fórmula matemática a um mal-entendido entre duas pessoas – desde que, primeiro, esteja-se falando da construção do fenômeno. E segundo, que o foco seja o observável “objetivamente”. Por conta disso, por um lado, pode-se dizer que o olhar da TAR “atravessa” as fronteiras disciplinares (avaliar a criação de um novo produto envolveria recorrer à engenharia, à economia, à cultura, à política, à ética etc.); por outro, é o objeto de interesse dela que pode não caber em tais enquadramentos.

Esse observar, entretanto, depende de sublinhar exatamente o que se quer estudar, da pergunta que guia o trajeto.

Polêmica?

Interessada sobretudo no (discurso?) social, a pergunta metodológica mor da TAR seria “qual a controvérsia?”. Isso pois, ao nosso entender, é a partir da disputa que melhor pode-se observar o jogo da formação do mundo humano (um artefato, uma lei, uma decisão…), do momento em que estamos diante de questões em aberto, antes delas se tornarem “fatos concretos”, “realidade”; além do que, nesse ponto do processo, as várias opiniões e posições se exacerbam, tornando-se mais visíveis, sendo acompanhadas da produção “espontânea” de material (falas, textos etc.) a ser coletado e analisado.

Mas essa ontologia poderia ser útil a estudos cujo foco não seja a formação do social, como a constituição de um acidente cósmico ou a evolução de uma bactéria? Ou a investigações que não se expandam a diferentes áreas do conhecimento[1]? Talvez, mas o que perguntar quando não há polêmica?

Pensemos uma intervenção artística, uma obra de arte contemporânea: pensar num “social” de interesse mais antropológico/sociológico poderia ser o centrar-se em uma discussão sobre ela. Ela é boa ou ruim? É arte? Poderíamos  mapear, conforme se manifestem, as várias opiniões e instâncias presentes na disputa, de jornais a instituições culturais, de público visitante a críticos, de militantes políticos à obra “em si”[2]. Mas, para além das duas áreas citadas, se nosso interesse fosse, por exemplo, mais voltado à materialidade do objeto? A TAR poderia ser interessante aqui? Nossa intuição é a de que, talvez, sim.

Ontologia voltada ao objeto?

Conhecer os elementos que se combinam no próprio objeto. Descrever uma obra de olho no que se faz manifesto, não em subjetividades (intenções do artista que não necessariamente ganham corpo). Usemos como exemplo De Lama Lâmina, de Matthew Barney, exposto no Museu do Inhotim (Brumadinho, MG) – imagem no início do post.

http://i475.photobucket.com/albums/rr120/ghfinotti/5531%20inhotim/5531_100408_077D.jpg

(Visão de fora de De Lama Lâmina, de Matthew Barney. Foto de Leonardo Finotti)

O que é visto? Como são as cores, as linhas, os volumes, as texturas? Que materiais são usados? Numa descrição concisa (a título de ilustração, afinal, a TAR pressupõe profundidade nisso), De Lama Lâmina consiste em um trator/guincho, um tanto simples, parcialmente coberto de lama, num ângulo torto semissuspenso, segurando uma árvore de plástico branca, cujo molde inclui formas de armas e outros objetos, uns encravados em falsas fendas no tronco dela, “partindo-a”, outros (parafusos etc.) “mantendo-a unida”. Os galhos da planta terminam em tubos e numa estrutura geométrica, possuindo ainda outros detalhes de plástico, como um aglomerado de finas chapas brancas sob o veículo, uma estrutura na roda suspensa etc. Tudo dentro de um esqueleto de metal formando dois “gomos”, um maior que o outro, colidindo numa coisa só, coberto por peças triangulares de vidro que, devido às condições de luz, podem tanto refletir quando deixar transparecer (às vezes ao mesmo tempo) a floresta ao redor (a obra é acessível após uma pequena caminhada na mata, quando a estrutura espelhada surge) e/ou o interior.

 

(Detalhe de De Lama Lâmina: a estrutura no topo da árvore refletida no domo. Foto de Igor Marotti)

 

Nosso argumento é o de que há uma etapa da descrição desse objeto “em si” cujo detalhamento baseado em relatos dispersos pode (não necessariamente) ser por demais distanciado do encontro direto ou de um relato minucioso (cujo parágrafo anterior não é um bom exemplo), prejudicando um tipo de compreensão do objeto.

Nossa experiência no caso pode de ilustrar: a partir de algumas discussões menos precisas sobre tal obra, achávamos que o veículo e a árvore seriam os visto no carnaval de Salvador em 2004 – cuja diferença na presença do elemento plástico (branco), apenas para mencionar um ponto, é enorme.

 

(De Lama Lâmina – versão anterior? Foto sem crédito / encontrada no Google)

 

(De Lama Lâmina no carnaval de Salvador. Foto sem crédito / encontrada no Google)

 

Ontologia voltada ao fenômeno percebido, à experiência?

Haveria em artes (mas também em outras áreas), assim, uma fase da descrição que dependeria do encontro direto daquele que descreve com aquilo que, materialmente, estaria pré-configurado a uma posterior percepção – evitando mesmo equívocos ou análises que pareçam distantes daquilo que os acostumados ao objeto experimentam.

Há, porém, duas condições que podem ser vistas como problemas, as quais a Teoria Ator-Rede oferece resolução: é possível descrever tudo? O analista pode perceber/definir todos os detalhes relevantes? A solução da TAR à primeira problemática seria restringir-se (um recorte – como todo o recorte, arbitrário e necessário[3]) àquilo que efetivamente afetou aquele(s) que relata(m). Não ao que pode, em possibilidade, afetar – sob o risco de o que não teve força suficiente para se fazer visível ao analista ser calado.

Ao outro ponto, a solução seria a de não se focar tanto nas impressões do analista, mas naquilo que é deixado pelos envolvidos na questão: a partir dos vestígios pode-se observar reações que escapem ao que o pesquisador esteja pré-disposto/pronto a perceber no universo dele.

Mas aqui voltamos a De Lama Lâmina[4]: para remontar materialmente a coisa (na dimensão do) “em si”, e não (na dimensão de) uma construção discursiva, até que ponto poder-se-ia confiar “exclusivamente” nesses vestígios? Até que ponto eles podem dar uma dimensão mais aproximada do que é esse objeto, não ficando reduzida a um conjunto de impressões esparsas? Apesar de a postura política e ética da TAR ser clara[5], em certos estudos – a ontologia de um brinicle[6] no oceano gelado ou qualquer coisa cuja presença de pessoas (e suas falas) não seja fundamental no nível focado –, não se poderia recorrer a outras formas de relato, como o do próprio analista munido de “rigor científico” – ou mesmo instrumentos de medição, “coisas” que mapeiam, sem discutir o que é cartografado – e ainda nos considerarmos na TAR? Podemos pensá-la nas “ciências duras”?

(Um brinicle, “dedo” de gelo dentro d’água. Imagens da BBC, sem crédito do fotógrafo / encontrada no Google.)

A observação da rede que é a construção do fato científico brinicle envolve falar sobre recursos financeiros para sustentar a pesquisa – incluindo aí o interesse da BBC numa possível audiência –, status e influência política para conseguir tais recursos, disponibilidade tecnológica da época etc. Já a rede brinicle “em si” – que é uma das que compõem a anterior – envolve condições climáticas, composição específica da água, marés e correntes marítimas etc. havendo pouca, ou nenhuma, influência de humanos.

 Talvez aqui o problema seja simples: uma mudança no intuito (do social ao fenômeno num patamar restrito) necessita de um deslocamento do ponto de observação. Ao invés de o analista em artes descrever “tudo” de maneira abstrata (o que “poderia” afetar um possível observador), falaria do que o afetou, não numa apreciação solta e desinteressada (evitando assumir a postura falsa de um observador “comum”), mas numa análise detida (ou seja, um analista). Assim, combinaria o comprometimento em seccionar criteriosamente o descrito em suas partes, mas admitindo isso aos moldes do etnógrafo que relata a própria vivência, admitindo que o que lhe escapou é por que lhe escapou, não sendo nunca uma descrição total e não tentando maquiar isso (aliás, problematizando isso). O mesmo valeria para as ferramentas de um laboratório – LHC[7] do CERN[8] realiza aquilo que ele consegue, mais do que outros instrumentos, mas talvez menos do que alguns pesquisadores desejariam.

Isso nos jogaria em um lugar já conhecido, anterior à TAR, com o pesquisador falando “o que quiser”, suas impressões pessoais e que não necessariamente correspondem à percepção de outros? Talvez não: afinal, falamos aqui do que é observável empiricamente, e não elucubrações da cabeça deste. Logo, poderíamos recorrer a metodologias de coleta empírica diversas. Desta forma, se o problema da TAR é o que se imputa “subjetivamente”, o que não está lá visivelmente, uma descrição material feita pelo analista, levando em consideração que ele, enquanto tal, não pode perceber tudo, não seria necessariamente uma traição à TAR.

Experiência isolada?

Mas o encontro com o objeto pode ser feito como se ele estivesse suspenso numa bolha ou no espaço?

Não sendo o caso de De Lama Lâmina conforme exposto em Inhotim (afinal, lá, a galeria é também a coisa, não sendo um “cubo branco” que se pretende neutro), para a análise de um quadro poderíamos expandir o relato para o que está fora dele, levando em conta condições da exposição, como as dimensões, cores, localização e particularidades de luminosidade e climáticas do local de exibição (a parede, a sala etc.), assim como proximidade de outras obras etc. A depender do que se quer, pode-se iniciar um segundo movimento, ultrapassando o foco nessa materialidade mais “fixa”, problematizando a observação (momento e condição).

No caso do trabalho de Matthew Barney, questões não “dadas”, como crianças que corriam pela sala e se multiplicavam, formando mosaicos nas vidraças anguladas, evidenciavam a importância do ambiente. Perguntas como “há outras pessoas na sala?”, “o local é ruidoso?”, “é tranquilo” etc. poderiam se adicionar à condição da experienciação. Quais limitações e contingências dizem dos resultados de um telescópio espacial ou de um exame médico?

Ontologia voltada à rede?

Seria possível continuar essa ultrapassagem em direção às relações que a obra estabelece e àquilo que ela remete? Poderíamos avaliar a cosmologia dela? Talvez uma tarefa mais arriscada (o perigo de imputar percepções), mas que poderia ser tentada. Que conexões, mesmo não intencionais (a obra como objeto independente do artista), ela estabelece em relação a filiação com escolas, a estilos e a matrizes de pensamento? O que a obra deixa falar “por si”?

Nesse sentido, o lugar do pesquisador deveria ser problematizado. O reconhecimento de alguns traços mais aparentes (um símbolo católico comum, para um analista situado num país ocidental de boa penetração cristã; ou mesmo símbolos menos gerais, mas que dele fosse esperado o conhecimento) poderia dispensar uma “autorização” externa na fala de outros. Até mesmo um pesquisador que se insira numa comunidade específica (um nicho cultural focado: cinéfilo, músico de jazz etc.) poderia cumprir o papel de dizer o que estaria “posto” (para essa comunidade) na obra.

Mas, nesse caminho, fica a dúvida: a obra é separada do criador? O conhecimento de algo em escala maior que ela não pode ser útil aqui?

Para os que acreditam que a obra é um “monstro” em si, a análise pode se deter por aí. Do contrário, seria a hora de reconectar a análise das dimensões “interna” à “externa” – da coisa “em si” e daquilo que ela “diz por si” ao “o que se diz dela”, o discurso “social”.

Afinal, na saída do estritamente material, o escopo de relações que poderiam ser estabelecias – e imputadas – pode crescer vertiginosamente, e a simples confiança na bagagem do pesquisador seria limitadora. Por exemplo, em De Lama Lâmina, quando fomos ler um quadro explicativo – após termos nos dado por satisfeitos como a coisa “nela mesma” –, eis uma surpresa: segundo a intenção de Matthew Barney, a obra era uma representação da luta entre dois orixás, Ogum e Ossanha, algo de guerra e tecnologia contra natureza.

Essa disputa (artificial versus natural) talvez nos fosse clara, afinal, um trator segurando uma árvore (além da progressão de materiais que ia da lama, passando por uma máquina de ferro, até o plástico. Todos, em última instância, retirados da natureza, mas em etapas distintas de manejo pelo homem) dentro de uma redoma de vidro no meio da mata. Mas não nos foi possível alcançar a intenção (por ter ficado só na intenção?) do artista em referência a religiões afro-brasileiras: talvez para alguém mais inserido nelas, as referências fossem mais óbvias. Mas, para nós, mesmo voltando à obra não, nos foi possível reconhecer nenhum símbolo que fizesse referência mais direta à religiosidade. Para nós tal debate não se manifestou na coisa. Ou, caso o tenha, não o fez de maneira clara. O que nos levaria a associar o trabalho justamente a Ogum e Ossanha, e não a qualquer outra entidade de qualquer outro panteão ligado a tal embate?

Então…

Iniciamos este post falamos sobre “computadores fazendo arte”. Uma crítica que já ouvimos (não apenas uma vez) sobre a Teoria Ator-Rede é a de que, apesar de pretender colocar pessoas e máquinas (e entidades abstratas, e animais etc.), humanos e não-humanos num mesmo patamar (o da ação – como pintar um quadro), haveria uma insistência na presença dos humanos (“eles sempre estão lá”, acusa-se): faltaria[9] exemplos os quais eles fossem de pouca relevância. Admitamos (mesmo no risco do erro do desconhecimento) que isso seja verdade.

Por outro lado, uma das denuncias feitas pela TAR é a de que mesmo numa pesquisa de laboratório strictu sensu (tubos de ensaio, microscópios etc.) podemos identificar rastros de várias instâncias (muitas das quais importância é deliberadamente omitidas em relatórios finais), como pressão de investidores em busca de resultados, de agências exigindo cumprimento de prazos, limitações tecnológicas, dentre diversas outras, todas influenciando diretamente as descobertas (ou melhor, a construção dos fatos científicos).

As duas posições são conciliáveis? Achamos que sim. Bastaria reconhecer que talvez a diferença entre elas resida simplesmente em qual dimensão da rede se está observando – admitindo-se a dificuldade/impossibilidade de dominar todas.

Pensemos num laboratório de física estudando fenômenos solares: uma pesquisa social da TAR poderia ter por interesse a ontologia da construção desse conhecimento (financiamentos, o jogo para legitimar e validar tal saber…). Já para os pesquisadores desse laboratório que precisam investir tempo/esforços concentrados na obtenção de resultados (sendo pressionados pelas outras instâncias, mas não podendo lidar com elas, centrando-se em entender o que está acontecendo no distante Sol, independente da existência do ser humano), o interesse seria pensar na ontologia de uma das redes presentes na anterior, que, por sua vez, seria composta por outras.

Pois justamente para a TAR essa divisão não deveria dar-se com base em disciplinas acadêmicas (um sociólogo estuda isso; um físico, aquilo). Ela se faria conforme a reverberação do fenômeno. Mas, se uma onda de choque, logo, partindo de algum ponto: e ele indicaria tanto o interesse central do pesquisador quando o até em que parte ele chegaria. O apoio da população de um país em relação à pesquisa espacial (logo, à possibilidade de liberação de verba governamental para ela) influencia um físico nuclear estudando uma explosão elétrica na superfície solar, mas, até que ponto ele precisa (e tem condições) preocupando-se com isso? Para um sociólogo, saber quais as dificuldades envolvidas num estudo assim são de suma importância (pois isso justifica a presença e necessidade de equipamentos de alta precisão, técnicos altamente treinados e de toda a estrutura), mas até onde ele precisa de/pode ter conhecimentos de fusão nuclear, as quais só um especialista domina?

Para os autores mais clássicos da TAR, parece-nos que o ponto de partida (e que vai influenciar as fronteiras que ele estabelecerá) é a disputa, a polêmica, a controvérsia. Nossa ideia é a de ele poderia ser outro, variando conforme o interesse, sem necessariamente abandonar a perspectiva ontológica da TAR.

Por fim, nossa posição pode ser resumida assim: como ontologia, pensamos que a Teoria Ator-Rede pode ser de grande serventia a diferentes tipos de análises empíricas que não necessariamente “sociais” ou “transdisciplinares”, ou melhor, a níveis de análise que não o fossem, chegando àqueles patamares cuja presença de humanos fosse minimizada. Para algumas delas, a descrição material de um objeto pode ser necessária – ou mesmo o foco – e, em alguns casos, o embate pesquisador versus objeto pode se configurar como uma opção interessante, por focar no objeto “em si” ao invés de se concentrar nos discursos ou na formação de um social disparadas por/para ele. Isso ampliando o escopo de trabalhos da TAR.  Além disso, em artes, uma análise empírica pode ser útil para uma crítica em relação ao “sucesso” ou “falha” de uma obra em comunicar certas intenções. Por fim, nada impede que essa etapa não seja articulada à investigação do objeto em sentido mais amplo, toda a rede que o faz (afinal, não mero “aglomerado de matéria”, mas “arte”); e a problematização do tipo de investigação e de como observar pode também aproximar a TAR de pesquisas científicas de áreas que não as “humanidades”. Não como um antropólogo olhando para um laboratório científico; mas como um dos cientistas deste olhando para o próprio experimento. De onde partir e até que lugar ir?

 

Leonardo Ferreira, mestrando em Comunicação e Cultura Contemporâneas – Cibercultura –  na Universidade Federal da Bahia – UFBA


[1] Apesar de podermos nos perguntar, “qual a serventia disso?”, afinal, a TAR está de certa forma num contexto em que justamente se coloca em duvida essas noções (qual o limite entre os campos do saber? Há como se separar o “social” do “resto” das coisas do mundo?). Nossa crença, entretanto, é que a TAR consegue manter sua força mesmo quando esse questionamento não é o ponto chave do debate.

[2] Talvez a ideia de algo “em si” não seja coerente com a TAR, do momento que, nela, tudo se configura como “rede” (e cada parte da rede, por sua vez, é também uma rede). Entretanto, é cabível nela uma noção de “escala” desses conjuntos em constante negociação (e. g.: dimensão local, um laboratório com cientistas e equipamentos; dimensão global, as instituições financiadoras do experimento, o governo…). “Em si” seria, então, uma questão de graduação, o “interno” (que não se dá sem o externo).

[3] Em tempo: outros inúmeros tipos de recortes já foram tentados, de modo que “por que não se tentar outro, para quando os antigos não dão mais conta?”. Além disso, um limite flexível, que (talvez) dê mais voz ao próprio objeto estudado, pode ser mais “justo” com o mesmo.

[4] Não se tratava, na época, de uma pesquisa “científica”. O relato é apenas uma extrapolação do que poderia acontecer (ou que acontece) numa pesquisa por demais focada em relatos e não no acesso direto.

[5] Não “imputar”. Isso já é feito há muito tempo. Deixe os “rastros” dizerem o que deve ser dito.

[6] http://www.bbc.co.uk/nature/15835014

[7] http://home.web.cern.ch/about/accelerators/large-hadron-collider

[8] http://home.web.cern.ch/

[9] Bem, isso talvez possa dizer mais da bibliografia consultada do que sobre o estado total das pesquisas da TAR.