Resenhas

The Tuning of Place – capítulo 10

Exploratorium” (Cabspotting)

Parte de São Francisco (Califórnia) vista através do trajeto de um táxi.

Capítulo 10 – Agregação

Perceber os dispositivos digitais pervasivos como laboratórios e estúdios de experimentações e inovações é a proposta de Coyne para o capítulo. Ante a uma variedade de aparelhos e funcionalidades, como combiná-los (e com qual intuito) condicionando novas relações que, mediante limitações e apropriações diversas, poderão ou não levá-las à inserção nas práticas quotidianas? O que isso revela sobre a sociedade? Tentando afastar-se de um tecnodeterminismo social, o autor sugere:

 […] o abraçar exagerado de tecnologias e dispositivos não precisa levar inevitavelmente a uma dependência da automação, dependência tecnológica, e assim a legitimação do tecnorracionalismo, mas na verdade pode exagerar a consciência de uma condição oposta. Conceitos de artesanato, natureza, ambiente, sustentabilidade, sociabilidade, presença, e “estar com” emergiriam em conjunto e em dialética complexa com grandes desenvolvimentos tecnológicos.1

Assim, uma série de experimentos são mostrados, trabalhando na junção de serviços online e inovações para coleta e exibição de informações de diferentes formatos, combinados, entre outros, a redes sociais e MMORPGs 3D.

Serviços de Localização

Fundindo dispositivos como celulares, câmeras digitais, aparelhos de GPS e serviços como o InstaTracker para criar mapeamentos, o Exploratorium (veja também interessantes timelapses do projeto), mapeou-se a cidade de São Francisco através do movimento dos táxis.

 O padrão traçado por cada táxi cria um mapa vivo e sempre mutável da vida da cidade. Esse mapa aponta para tendências econômicas, sociais e culturais que são de outra maneira invisíveis. O Exploratorium convida artistas e pesquisadores a usar essa informação para revelar essas “Dinâmicas Invisíveis”2.

Entre os que aceitaram o convite, Henrik Ekeus e Mark Wright adicionaram um sistema de fotos que, para Ekeus,  seria “como se o táxi varresse a cidade lançando memórias de eventos passados”3. Mais tarde, ao invés de aparelhos de GPS em veículos, foco dos dois seria celulares: através de uma mensagem, era possível requisitar no banco de imagens do Flickr fotos tiradas do local no qual se estava – possibilitando acessar detalhes que chamaram a atenção de outros.

Inspirado nisso, Coyne e Ekeus realizaram outro projeto, colhendo em redes sociais, através de celulares, imagens baseadas na localização atual dos aparelhos. Um curioso efeito foi o de, em lugares nos quais não havia “nada”, imagens de outras localidades próximas serem o retorno: a “população” de imagens de um lugar acaba por migrar para outro menos “povoado”. Mais tarde, o projeto foi ampliado, comportanto textos, vídeos, sons e links, obrigando-os a pensar de maneira a suportar todos esses formatos, mesmo se estes não fossem baseados em geotagging automático.

Active Branding

Prosseguindo nos exemplos, Coyne passa a problematizar programas capazes de “casar” imagens fotografadas com outras pré-depositadas em bancos de dados. Como proposta, pensá-los para o mundo financeiro e dos encontros de negócios.

Nesse recorte, são citados casos como uma ação de marketing na qual cubos de papelão com fotos de celebridades eram deixados em lugares estratégicos. Os participantes deviam responder a um questionário de múltipla escolha através do fotografar desses astros, enviando para o software de reconhecimento: caso as imagens casassem na ordem correta, recebia-se um drink grátis. Noutro caso, num jogo de caça ao tesouro, o usuário ganhava dicas para fotografar um elemento específico de ambientes e, de forma semelhante, se as imagens “batessem” com as do banco de dados, um prêmio era recebido – no caso, a foto com algo acrescido (um gremilling, por exemplo).

O interessante seria a lógica de destrancar, destravar informações “escondidas” na cidade. Apesar de a tentativa de Coyne, envolvendo fotografar detalhes e receber de volta mensagens de MMS, SMS, ligações, músicas etc., não ter “dado certo”, não gerado algo – para ele – interessante, o importante estaria na discussão sobre o ajuste dos lugares em relação ao casamento de informações.

De formas diferentes, o autor foca em apropriações, reconfigurações, jammings de artistas e ativistas, como em exemplos de exposições de “arte invisível”, cujas obras de graffiti digital seriam acessíveis apenas por celulares. No ação, após fotografar uma superfície, recebia-se imagens das intervenções escondidas. Tais proposições podem ser ainda trabalhos de sabotagem contra empresas, instituições etc., como quando eram exibidas carcaças de frango sobre fachadas de uma cadeia de fast-food, ou mesmo na substituição de logos.

Os mesmos Mark Wright e Henrik Ekeus aprofundariam isso ao juntar o casamento de imagens com cálculos de ângulo, criando retornos condizentes e adaptados à foto tirada, num processo complexo de calibração e ajuste.

Tais experimentos problematizariam o customizar, o distorcer, o brincar, além das noções de avatar, tag, e de adaptação do corpo/ambiente/dispositivos.

Num último experimento, Coyne propõe levar tais discussões a ambientes 3D como o do Second Life. Assim, fotos tiradas em locais de trabalho eram projetadas nesse “jogo”, evocando a atmosfera de encontros de negócios da seguinte forma: marcadores em oito salas de escritório indicavam pontos a partir dos quais fotografar. Após batê-las, um programa reconhecia a localização inicial e, ao jogá-las no Second Life, encaixava-as na posição correta para compor a paisagem. Para o autor, entretanto, os resultados foram negativos: mais do que tentar emular um ambiente “real”, o mais interessante seria explorar as novas possibilidades e práticas do SL. Apesar disso, novamente, haveria a importante reflexão sobre os assuntos, na necessidade de adaptações e explorações em relação aos usos e abandonos, nunca se esquecendo a infraestrutura necessária para tudo isso funcione.

1 COYNE, 2010. p. 188

2 COYNE, 2010. p. 189

3 COYNE, 2010. p. 190