O livro que abre as discussões do GPC em 2012 é The Tuning of Place – Sociable Spaces and Pervasive Digital Media de Richard Coyne, publicado em 2010 pela MIT Press. No primeiro encontro, discutimos os capítulos 1 e 2 do livro, Intervencão e Calibração.
O grande objetivo do livro é explicar como as mídias pervasivas ajudam a formular um senso de lugar através de sua capacidade de produzir pequenas mudanças – o que o autor chama de ‘tuning’ ou sintonização e é comparável com o processo de afinar um instrumento. O autor estrutura os temas da ubiquidade e dos sentidos através das questões que entram em jogo com dispositivos de mídia digital, a saber: a necessidade de ajustes, a natureza repetitiva de suas operações, o seu papel em armazenar e indexar dados, suas funções locativas e as questões referentes ao ruído.
Segundo Coyne, lugares são espaços habitados pelo modo com que as pessoas os ocupam com suas preocupações, memórias, histórias, conversas, encontros e artefatos. A sintonização do lugar, assim, é um conjunto de práticas pelas quais as pessoas usam dispositivos, intencionalmente ou não, para influenciar suas interações com o outro nos lugares. De modo que para o autor, se os dispositivos pervasivos estimulam a sintonização do lugar, os pesquisadores e designers precisam expandir seus entendimentos do papel dessa tecnologias de sintonização para o alinhamento das práticas humanas.
Capítulo 1 – Intervenção
Coyne concebe o design como intervenção no ambiente e dedica o capítulo inicial à maneira pela qual os dispositivos são pensados e colocados a disposição das pessoas.
Em alguma medida e desconsiderando a ideia de affordance, o autor afirma que os designers não conseguem antecipar as apropriações de suas criações e que as estratégias de prototipagem na programação ou no desenvolvimento de produtos reconhecem que apenas quando um produto é colocado em contexto de uso é que muitas de suas funções vem à tona. Deste modo, todo o design tem a característica de um hack, um microdesign provisório. Coyne ainda usa Latour para afirmar que todo design é incompleto.
A enfâse, portanto, fica nos equipamentos e nos dispositivos e não sistemas, e como defendido pelo autor, no dia-a-dia pessoas interagem com dispositivos e não com sistemas.
Importante também neste capítulo é a metáfora do som. O som implica pensar atmosfera, ambiente e computação ambiente. Ele pode ser um conflito emblemático, uma vez que as pessoas geralmente se referem aos sons como fontes de barulho e incômodo.
Assim, para o autor, mais do que buscar o estímulo-resposta, os designers devem pensar em gostos, cheiros e sons. Ele usa o exemplo do kawaii, estética aparentemente leve e engraçada, que pode ser repugnante para muitos. Essa reflexão leva a pergunta: o design amigável a quem? Confortável pra quem?
Capítulo 2 – Calibração
O segundo capítulo se detém a apresentar a sintonia como um tipo de calibração e as mídias pervasivas e os dispositivos ubíquos como partes da regulação e desregulação das interações humanas.
A calibração depende da criação de um padrão e a padronização é uma das marcas das comunicações contemporâneas interoperáveis das quais a mídia pervasiva depende. Coyne usa os exemplos da criação dos padrões HMTL e XML para argumentar que apesar de restritiva, a falta de uma padronização impede as inovações que derivam da transmissão direta de informação entre celulares, sensores ubíquos e dispositivos de controle.
É a calibração que faz com que um celular ou laptop possa exibir a informações sobre o clima: o dispositivo consulta uma base dados e fornece sua localização atual para então receber os dados climáticos. A calibração assim, é necessária para assegurar que as condições iniciais estejam ajustadas corretamente. Os tópicos seguintes do capítulo versam sobre as possíveis interferências do som e da luz na calibração.
Coyne afirma que a arquitetura e a música por muito tempo se preocuparam com a proporção e a harmonia e assim, acabaram evidenciando o restante, excluído, o supérfluo, o desviante. Deste modo, a sintonia de lugar pode ser vista como uma restauração da diferença.
O autor insiste na ideia de que a sintonia de um lugar não significa sua regulação. A medida que as mídias ubíquas formam parte da percepção e do aparato social dos lugares, elas podem sintonizar o ambiente sem regulação. Para Coybe, se considerarmos o quanto é importante calibrar, ajustar e sintonizar um equipamento, então a história social deve entender a diferença como um fator incorporado à prática humana.
Sobre o autor
Richard Coyne é professor de computação arquitetônica na Universidade de Edinburh. É autor dos livros Designing Information Technology in the Postmodern Age: From Method to Metaphor (1995), Technoromanticism: Digital Narrative, Holism, and the Romance of the Real (2001) e Cornucopia Limited: Design and Dissent on the Internet (2005).
Site: http://richardcoyne.com/
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